28 de set. de 2011

Partido Pirata


Fiquei muito interessado em uma notícia que saiu na semana passada: o Partido Pirata da Alemanha conquistou, no parlamento regional de Berlin, 15 cadeira na eleição ocorrida no dia 18 de setembro.

E destaco o seguinte do texto:

“Assim como os Piratas foram a surpresa positiva na eleições alemãs, os tradicionais partidos A Esquerda e Verde amargaram uma queda de cinco pontos percentuais no número de votos recebidos, em relação ao pleito anterior.”

Mesmo sem ter uma análise maior da situação, me parece que o esgotamento dos discursos de políticos ecologistas e esquerdistas de várias facções, junto com a nova sociabilidade trazida pelas tecnologias de comuicação via internet, estão produzindo uma nova conformação da juventude européia – e que se “espraia” pelo mundo afora, tendo, assim, surgido um novo canal de expressão e ação ideológica “partidária”, canalizando e catalisando a rebeldia outrora contida nas agremiações ligadas à retórica socialista, social-democrata e "verde".

Talvez tenhamos aí uma nova postura da juventude politizada; formou-se um caldo cultural a partir do uso cada vez mais intenso das TIs, ao mesmo tempo que os discursos de “esquerda” e de “direita” se esfarelam na velha mesquinharia, hipocrisia e paranoia própria do jogo do poder político-partidário e governamental.

Dando livre curso ao pensamento, acho que aqui no Brasil, o PT parece estar “envelhecido” e tem se tornado cada vez mais um partido governista, que se usa de práticas antes condenadas veementemente – embora possamos localizar avanços em seus governos. Os demais partidos de esquerda estão ideologicamente fossilizados. Os sem-ideologia, que são apenas siglas vazias, continuam suas trajetórias fisiológicas, sem dizer mais nada para às gerações contemporâneas, especialmente para as camadas de jovens com algum nível de criticidade e para além dos cooptados em aparelhos partidários.

Segue mais abaixo a notícia referida e também um link para um entrevista já “antiga”, de 2009, onde Jorge Machado, sociólogo e professor universitário, e Guilherme Bellia, estudante de comunicação, falam sobre a proposta do Partido Pirata no Brasil. Selecionei o seguinte trecho da entrevista deles:

“A diferença do Partido Pirata está muito mais no método. É livre, aberto e colaborativo. Com este método você pode trabalhar com qualquer pauta. Por exemplo, habitação. Para discuti-la, primeiro, vamos expor quais são os recursos disponíveis, as demandas, os movimentos sociais, as secretarias, interesses envolvidos e, enfim, fazer tudo de maneira transparente. Como eu disse, estamos hackeando a política. Estamos focados em questões que estão nas raízes da política: transparência, construção colaborativa, direitos civis e humanos. Só de respeitar tudo isso, já fortalece a democracia. Para termos maior abrangência em outros assuntos e desenvolvermos pautas específicas, claro, nós precisamos crescer em contingente. Precisamos de mais pessoas tratando de educação, por exemplo. Podemos fazer uma proposta de modelo de escola livre, que forme pessoas que pensem, critiquem e questionem as coisas, não uma escola que discipline as pessoas para que tenham um comportamento padrão. Com plataformas abertas, podemos permitir que este tipo de proposta surja.”

Link: http://info.abril.com.br/noticias/internet/os-piratas-do-brasil-estao-chegando-05102009-37.shl#ir

Falou!


*Aliás, tem uma outra coisa rolando por agora nos EUA (notícias na imprensa de 03/10/11), nas mesmas bases do Partido Pirata, mas sem estruturação partidária, que é o movimento "Occupy Wall Street", coalizão de movimentos menores, majoritariamente formada por jovens se organizando via internet.

Na última ação "não-virtual" em Manhattan, quando vários foram presos por bloquearem a ponte do Brooklin, os caras estavam dizendo coisas como:

"Este não é um protesto contra a polícia de Nova York. É um protesto de 99% da população contra o poder desproporcional de 1% que controla 50% da riqueza do país."

"Não é justo que nosso governo ajude as grandes corporações e não as pessoas."

Não é algo novo. Mas é nova a forma da mobilização, com lideranças bem mais rarefeitas e sem bandeiras de partidos, se usando intensamente das redes sociais etc.

**Aliás "2", aqui mesmo na Santinha, a partir de uma postagem no Facebook, o cara desencadeou um protesto contra a lotação dos ônibus que fazem linhas intermunicipais na região, obrigando a empresa a "se explicar" e respaldar-se em "autorizações" absurdas do DAER, que permite o cara viajar de pé, sem comodidade e segurança alguma, em estradas movimentadas - enquanto eu preciso (e faço questão de) ter uma cadeira de mais 500 reais para levar a minha filha na escolinha, e, se for flagrado sem, serei multado e não sei mais quantos pontos na carteira e incomodações variadas... Redes sociais pautando a imprensa e colocando empresas e órgão de governo em saias justas... Baita irresponsabilidade e mesquinharia de empresas de transporte de passageiros com a conivência (parceria?) do Estado.

Taí o link da notícia se alguém não viu e quer dar um bizu:

http://www.gaz.com.br/noticia/303860-superlotacao_de_onibus_tortura_passageiros.html

***Outro comentário: Saiu na imprensa em 28 de setembro o seguinte: o Congresso Nacional ouviu a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), instituições que reúnem renomados cientistas do país. Porém, mesmo com toda a base do mundo para fazer as indicações, o relator do projeto do Código Florestal na Comissão de Meio Ambiente, senador Jorge Vianna, disse que “algumas das sugestões” desses estudiosos devem ser incorporadas ao texto. Algumas, cara pálida? Como assim? É como se um corpo de médicos recomendasse ao paciente moribundo um série de restrições para garantir-lhe a sobrevivência e cura, e o cara simplesmente dissesse que talvez acate alguma recomendação... No caso do meio ambiente, a questão é muito mais séria, porque implica na vida da coletividade humana e dos demais seres da Terra. E o senador diz uma coisa dessas, que “algumas devem ser incorporadas”... Não se tratam de “opiniões”, mas, se deve supor, são indicações a partir de avaliações com o máximo de correção, porque feita por cientistas de alto nível.

São os interesses mais imediatistas conduzindo a política. No jogo do poder, vale manter medidas que ameaçam as gerações no longo prazo, mas que garantem apoio a partidos e candidaturas, afora outras possíveis vantagens pessoais para alguns. Sei que deve haver “negociações” para garantir ao menos algum avanço, mas não deixa de ser algo extremamente decepcionante abrir mão do “conhecimento científico” pelo “interesse político”.

Segue a notícia:


Cientistas apresentam relatório com críticas ao novo Código Florestal

Publicado em: setembro 28, 2011

Fonte: Ruralbr

Audiência conjunta no Senado reuniu pesquisadores e as três comissões que analisam a matéria

A opinião de cientistas sobre mudanças no Código Florestal foi ouvida no Congresso Nacional durante audiência com as comissões de Meio Ambiente (CMA), de Ciência e Tecnologia (CCT) e Agricultura (CRA) do Senado. Representantes da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira do Progresso para a Ciência apresentaram suas considerações para sete senadores que participaram da audiência pública. As críticas da ciência foram organizadas em um relatório único e a tendência é que algumas sugestões sejam aceitas.

Os cientistas da SBPC apresentaram, pela primeira vez, um documento com críticas a 10 pontos do texto atual, em debate no Senado. As mudanças, segundo eles, podem trazer consequências negativas para o meio ambiente. Segundo o membro da SBPC, Ricardo Rodrigues, um dos aspectos fundamentais está relacionado com as áreas de preservação permanente.

-Existe um grande número de estudos, mostrando que a reestruturação dessas áreas é fundamental para que ela volte a cumprir os serviços do ecossistema da mata ciliar – apontou Rodrigues.

Os cientistas acreditam que as contribuições da ciência estão mais próximas de serem levadas em consideração.

-O Senado está muito mais atento às questões ambientais e eu não tenho dúvida que várias dessas sugestões vão ser atentadas nessa votação – afirmou o membro da SBPC.

Para o representante da Associação Brasileira de Ciências, Elíbio Rech, é fundamental que exista um pacto de desenvolvimento para o país.

-Esse pacto vai envolver um consenso entre o uso racional e sustentável da biodiversidade e a produção – disse Rech.

O relator do projeto na Comissão de Meio Ambiente, senador Jorge Vianna, afirmou que algumas das sugestões devem ser incorporadas ao texto. Vianna manteve ainda a promessa da realização de um relatório conjunto sobre o tema.

-Eu e o senador Luiz Henrique estamos trabalhando em conjunto e acredito que seja possível encontrarmos soluções aos desafios que a matéria do Código Florestal nos traz – afirmou Vianna.

A expectativa é que o projeto seja votado na Comissão de Ciência e Tecnologia até o dia 20 de outubro.