28 de fev. de 2011

De agora em diante, isso é meu!

A mentalidade de apossamento ainda vigora. Mas podemos nos aproximar de seus “pontos altos” – risíveis pelo absurdo – lendo narrativas históricas. No livro As Viagens dos Grandes Exploradores (Publicações Alfa, 1998) diz-se (p. 41):

“Em 1513 Vasco Nuñez de Balboa, acompanhado de centenas de de guias e carregadores espanhóis e índios, percorreu 48 km de selva e pântanos no Panamá e avistou o brilhante [Oceano] Pacífico, que imediatamente reivindicou para Espanha.”

Ou seja, na arrogância que tal “reivindicação” era perfeitamente plausível, o explorador Balboa, comissionado pelo império espanhol, “adona-se” em nome do seu rei de um oceano inteiro! Não importa que vivam pessoas pela área há milênios. Como “civilizados” e “cristãos”, portanto, superiores aos “índios” (julgavam estar na Ásia), se davam o “direito” de tomar posse de algo que nem o tamanho e localização exata se sabia...

Hoje o apossamento “normalmente” se dá pelo dinheiro (os meios de consegui-lo em grande monta, porém, quase invariavelmente está ligado a iniquidades, quando não crimes explícitos ou escamoteados). Tendo-o, compra-se, obedecendo-se alguns trâmites, áreas imensas, até com florestas, lagos e rios – quando não ilhas paradisíacas. Depois disso, pode-se até cercar e proibir a entrada de pessoas “indesejadas”. Continua-se a privatização de bens que na origem jamais tiveram “donos”; talvez, no máximo, em tempos mais recentes (4 mil anos, por aí), usufruto de territórios para moradia e subsistência – bem diferente de um uso particular e permanente nos moldes de hoje ou mesmo do tempo de Colombo (a historia da humanidade vai muito depois do “descobridor” da América, e dos seres vivos, então, perde-se em bilhões de anos...).

Incrivelmente, os humanos elaboraram abstrações que lhes auto-permite tornar-se “senhor” de tudo que existe na Terra, inclusive de outros seres humanos. Isso vem de longe, de muitos povos, e parece que estamos, da mesma forma, distantes de superar tal mentalidade – embora tantas admoestações de personagens religiosos, de Buda a Jesus, do quanto o apego, a posse, enfim, a chamada “riqueza” de bens materiais é não somente ilusória, mas funesta para a uma felicidade verdadeira, aqui mesmo ou no “além”...

Drake: saqueador tornado cavaleiro inglês e homem de negócios – o mundo continua o mesmo nesta seara...


Um dos navegadores que ficou famoso pelo seu enriquecimento e retorno dado aos investidores no seu “negócio” foi o inglês Francis Drake. A bordo da sua nau de 100 toneladas, a Golden Hind, “Queimava e pilhava tudo o que encontrava no caminho ao longo de toda a costa sul-americana do Pacífico, atacando navios, assaltando colônias e levando saques em 25 milhões de libras (cerca de 42,5 milhões de dólares americanos [a publicação é de 1998])”, informa a obra As Viagens dos Grandes Exploradores, editado pelas Publicações Alfa, de Portugal. Drake, assim, estava “rico para o resto da vida”. E além de reivindicar a costa da atual Califórnia, EUA, para a soberana da Inglaterra, é dito que “os apoiantes do empreendimento recuperaram quase 5.000% do seu investimento e Drake foi sagrado cavaleiro pela sua reconhecida rainha [grifos meus].”

Drake – “El Draco, 'O Dragão'” para os espanhóis saqueados pelo ilustre filho-da-puta – estava autorizado pelo governo inglês, contando com recursos da coroa e de investidores particulares, como diz o texto (p. 85). Ou seja, era um ladrão, um pirata, um assaltante financiado e encarado como um agente estatal e empreendedor, usando-se da prática descarada da rapinagem mais vil, mas vista como atos de domínio justo, bravura máscula e ousadia comercial, tanto que recebeu um título honorífico dos mais importantes da Inglaterra.

De outras maneiras, pode-se dizer que há ainda muitos “bucaneiros” – outro termo para designar sauqueadores do mar – travestidos de “homens de negócio”, fazendo fortunas dentro das “regras do jogo” (como Drake), mas produzindo injustiças e prejuízos a alheios (muitas vezes a bilhões de pessoas, direta e indiretamente) , recebendo (como Drake) admiração e título nobiliárquicos.

Reforçando, na página 91 é dito que “os piratas e os corsários tinham apoio de cidadãos ricos e corporações de cidades, o que lhes proporcionava pretensões de respeitabilidade.” O mundo continua com seus assaltantes e assassinos que dificilmente vão parar na prisão, porque, na verdade, ao invés do pequeno roubo, praticam uma ladroagem grossa, com comparsas poderosos e acobertados pela injustiça feitas dentro da lei...