28 de mar. de 2010

Língua galega: chave cultural à disposição

Dominar um idioma é ampliar o universo de possibilidades humanas, é fazer crescer a quantidade e, também, qualidade de meios de conhecimento, contatos sociais e entretenimento. Faço destaque aqui para a ampliação da massa de leituras – livros, revistas, jornais, blogs etc. que se pode acessar diretamente, sem intermédio de traduções. Enfim, uma riqueza nos é possibilitada com o ler – e também escrever, ouvir e falar – outro idioma.

E existem idiomas que possuem uma tal identidade – de origens ou raízes, de histórias comuns –, tantas semelhanças, que chega a ser um “desperdício” não se apropriar e aproveitar tal chave de comunicação/conhecimento – expressão e contato.

Incrivelmente, muitíssimos de nós desconhece um idioma falado por milhões de pessoas pelo mundo e que é a língua oficial de uma comunidade – algo importante pelas conseqüências na produção textual, que cresce e se atualiza todos os dias. Trata-se da língua galega, o galego ou galez, nascido e mantido na Galícia, região autônoma da Espanha, fazendo fronteira com o norte de Portugal, no oeste do Velho Continente.

Imagine-se, para ficar em apenas um item de produção artístico-intelectual, o número de obras literárias que podemos acessar usando o galego! E para um razoável falante e leitor de português, isso é enormemente facilidade, como eu disse, pelas semelhanças das línguas – bem mais que o espanhol, diga-se de passagem! Tenho certeza que, em pouco tempo, com alguns exercícios de leitura e escuta de galego, “se pega” o idioma tranquilamnte!

Então, para fomentar essa possibilidade de enriquecimento intelectual e humanístico através do contato, uso e desenvolvimento do uso do galego no Vale do Rio Pardo – e, quiçá, no Rio Grande do Sul e todo o Brasil – estamos criando esta comunidade – http://chavecultural.blogspot.com – e outros meios que poderão se seguir.

6 de mar. de 2010

Sem retorno...


Oi, diretora!

Esses dias, conversando com a Nenê, me voltou uma questão, já que estamos no período, novamente, de compras de materiai$$$ escolares:

Não seria mais interessante que a escola (e falo no geral, dos colégios com estudantes majoritariamente de famílias de classe média e alta) começasse a oferecer uma opção de – ao invés de dezenas ou até centenas de itens de materiais escolares (cadernos, canetas, compassos, livros etc.), que chegam, com certeza, somando-se dois ou três anos, na casa do milhar de real; pois não seria mais em conta e bem mais interessante – já no final da primeira década do século 21, quando a gurizada cada vez mais vive on-line via computadores, celulares, smartphones etc., usando-os direto para inúmeras tarefas, sendo esta ferramenta a mais destacada no mundo do trabalho, da comunicação e até da sociabilidade –; não seria mais vantajoso se propor a compra de netbooks ou leptops ao invés da “parafernália” clássica (incrivelmente semelhante a usada por mim e por minha avó Amélia nos nossos tempos escolares – ou seja, os educandários são, mesmo, estruturas muito conservadoras, até para avanços tecnológicos oferecidos pelo mercado capitalista)?

Aposto que, numa possível compra coletiva da escola (com a opção de 3 a 5 modelos de computadores, quem sabe), os preços seriam ainda mais baratos em relação às compras totais de materiais escolares – ainda mais, como falei, se somando mais anos escolares e se considerando que o estudante poderia usá-lo para outras tarefas em casa.

O site da escola, e também blogs dos professores, poderiam ser ainda melhor utilizados para postagens de materiais de apoio às aulas presenciais, além de múltiplas atividades possíveis de ser realizadas de forma virtual (como tu sabes, o EAD no mundo todo é algo sem volta e em constante aperfeiçoamento e ampliação de usuários – e as escolas de ensino básico não terão como ficar fora disso).

Outra hora podemos conversar melhor! Digitei isso agora na corrida, só pra não me esquecer.

Abraço do

Iuri.

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Oi!

Por acaso (ou não!), me deparei ontem (22/02/2010) com uma reportagem em ZH que vai ao encontro do que te comentei sobre uso de netbooks, custos com material escolar, estudantes on-line etc.

Provavelmente tu já tenhas lido. Mas, caso não, segue o texto abaixo.

Abraço do

Iuri.

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Zero Hora, 22 de fevereiro de 2010 - N° 16254

Alunos digitais, escolas analógicas

A maior parte das escolas privadas do Rio Grande do Sul dá a largada hoje para mais um ano letivo. O Sindicato das Escolas Particulares do Estado (Sinepe) calcula que mais de 400 mil estudantes retornem às salas de aula. Neste início de ano, especialistas em educação fazem um alerta: a escola precisa mudar para acompanhar o ritmo da chamada geração Y.

Confira como professores, pais e alunos podem encarar juntos este desafio

Se um estudante do século 19 voltasse às aulas hoje, como boa parte dos alunos gaúchos, provavelmente se espantaria com o comportamento dos colegas e com a parafernália eletrônica que carregam nas mochilas, mas reconheceria de longe a sala de aula: o quadro negro, as fileiras de classes e a figura do professor à frente da turma lhe pareceriam muito familiares. Enquanto a geração do século 21 nasce plugada e desafia os modelos tradicionais de educação com inéditas formas de pensar e de aprender, a escola que se propõe a ensiná-los pouco se modernizou nesses dois séculos.

Diante do choque inevitável entre alunos digitais e um modelo de ensino analógico, especialistas alertam para um momento de ruptura: se quiserem continuar cumprindo seu papel, as instituições de ensino precisam se reformular. E para isso não adianta apenas investir em laboratórios de informática. É necessário repensar desde a maneira de se relacionar com os alunos até a geografia da sala de aula. Em vez de taxar os alunos de inquietos ou desinteressados, é preciso investigar o porquê dessa aparente apatia.

– Isso que a gente chama de indisciplina, desinteresse, apatia deve ser um motivo para mexer na qualidade da aula. Essa geração fuça, mexe, pluga, implode a escola que tem o modelo de aula dos séculos 18, 19 – adverte o professor e pesquisador Adriano Nogueira, que trabalhou com Paulo Freire e assina com ele diversos livros sobre educação, entre eles Que Fazer? – Teoria e Prática em Educação Popular.

Chamados de geração Y por sociólogos, os nascidos depois de 1980 são identificados por uma inquietação permanente, alimentada pela crescente velocidade das redes a que estão conectados. As mudanças são tão aceleradas que já há quem identifique uma geração Z. Segundo o pedagogo e conferencista Hamílton Werneck, autor de livros como Se Você Finge que Ensina, Eu Finjo que Aprendo, ela seria formada pelos nascidos depois de 1994.

– A Z é uma espécie de geração Y mais turbinada, está muito mais conectada no cyberespaço, e a escola está ficando para trás. O problema é que esses alunos também sofrem os efeitos da dispersão. Eles começam pesquisando sobre o Delta do Rio Parnaíba na internet, entram num link sobre o delta do Nilo, daqui a pouco já estão lendo sobre a última pesquisa do DNA de Tucancamon e não fizeram a pesquisa original. A escola tem um papel importante nessa mediação, ajudando a discernir informação – diz Werneck.

Para Paulo Al-Assal, diretor-geral da Voltage, agência de pesquisa especializada em tendências, com sede em São Paulo, um dos problemas da escola atual é que ela mata a criatividade, ao padronizar alunos em seu modelo fabril. E a criatividade é justamente a principal exigência do futuro.

– Minha filha de oito anos assiste Discovery, Geographic Channel, acessa multiplataformas. Aí vem a professora no primeiro dia de aula e diz: “a pata nada”. Em seu formato atual, a escola mata a criatividade – critica Al-Assal.

*Reportagem de LETÍCIA DUARTE

Dois caras


SALINGER

“...aquela guriazinha que ainda não tinha aprendido a maldade do mundo, essa que o leitor e eu já aprendemos e que nos fez ficar desse jeito, de vez em quando cínico, muitas vezes frio e calculista, quase sempre triste.”

A frase é de um artigo muito legal do Luís Fisher no caderno Cultura de ZH (30/01/2010). Ele se refere à personagem Phoebe, irmã de 10 anos do adolescente Holden Caufield no romance O Apanhador no Campo de Centeio, do recentemente falecido J.D. Salinger - escritor que desde os meados de 1960 se isolou em sua casa nos EUA; um cara que teve todo sucesso do mundo, com dinheiro suficiente para valer-se de todos os meios e símbolos desse sucesso representado pelos chamados “bens terrenos”, mas que, de algum modo, absteve-se deles e fez sua vida andar por outros caminhos.

O romance continua, 60 anos depois da sua primeira publicação, vendendo 250 mil exemplares por ano. E é um dos que eu tirei da minha lista de “clássicos a ler” já faz alguns anos (li no embalo, na época, outras coisas do autor, que não me pareceu tão empolgante quando O Apanhador).

Acho que era o Betão quem falava desse livro, junto com O Despertar dos Mágicos, que, coincidentemente, estou agora mesmo lendo aos pedaços.

Pois é. São dois “paradigmas”, que desencadearam revoluções ao apresentar e endossar publicamente interesses, enfoques e comportamentos divergentes. E até hoje são lidos pra caramba, mesmo datados (o começo dos anos 50, no caso de O Apanhador, e dos 70, de O Despertar).

Não sabia: Salinger esteve na segunda Guerra e foi um dos primeiros soldados americanos a entrar em campos de concentração. Isso deve ter tido “algum” efeito, até porque ele que era meio judeu.


VINÍCIUS

Os saudosos da ditadura militar brasileira de 64 devem detestar quando sabem coisas como: Vinicius de Moraes deverá ser promovido postumamente a embaixador brasileiro. Bá!

O “poeta e diplomata”, como se definia, perdeu a sua segunda condição com a expulsão do Itamaraty, com o famigerado AI-5. Não foi só ele. O ano era 1968 e as alegações para o degredo poderiam ser “simpatias esquerdistas, homossexualismo, boemia e alcoolismo”. As duas últimas condenaram um dos mais geniais pensadores, escritores e compositores (e tomadores de whisky) do Brasil a uma situação ultrajante, que agora poderá - ao menos simbolicamente - ter alguma reparação.

Expulsões sumárias de funções públicas foram apenas uma das facetas da ditadura. Quando percebemos que atingiu um cara como Vinicius, é suficiente para indicar o nível do trogloditismo e mediocridade do pessoal envolvido no golpe e seus longos 20 anos de duração - nos quais muito de nós viveram suas infância e juventude.