A mentalidade de apossamento ainda vigora. Mas podemos nos aproximar de seus “pontos altos” – risíveis pelo absurdo – lendo narrativas históricas. No livro As Viagens dos Grandes Exploradores (Publicações Alfa, 1998) diz-se (p. 41):
“Em 1513 Vasco Nuñez de Balboa, acompanhado de centenas de de guias e carregadores espanhóis e índios, percorreu 48 km de selva e pântanos no Panamá e avistou o brilhante [Oceano] Pacífico, que imediatamente reivindicou para Espanha.”
Ou seja, na arrogância que tal “reivindicação” era perfeitamente plausível, o explorador Balboa, comissionado pelo império espanhol, “adona-se” em nome do seu rei de um oceano inteiro! Não importa que vivam pessoas pela área há milênios. Como “civilizados” e “cristãos”, portanto, superiores aos “índios” (julgavam estar na Ásia), se davam o “direito” de tomar posse de algo que nem o tamanho e localização exata se sabia...
Hoje o apossamento “normalmente” se dá pelo dinheiro (os meios de consegui-lo em grande monta, porém, quase invariavelmente está ligado a iniquidades, quando não crimes explícitos ou escamoteados). Tendo-o, compra-se, obedecendo-se alguns trâmites, áreas imensas, até com florestas, lagos e rios – quando não ilhas paradisíacas. Depois disso, pode-se até cercar e proibir a entrada de pessoas “indesejadas”. Continua-se a privatização de bens que na origem jamais tiveram “donos”; talvez, no máximo, em tempos mais recentes (4 mil anos, por aí), usufruto de territórios para moradia e subsistência – bem diferente de um uso particular e permanente nos moldes de hoje ou mesmo do tempo de Colombo (a historia da humanidade vai muito depois do “descobridor” da América, e dos seres vivos, então, perde-se em bilhões de anos...).
Incrivelmente, os humanos elaboraram abstrações que lhes auto-permite tornar-se “senhor” de tudo que existe na Terra, inclusive de outros seres humanos. Isso vem de longe, de muitos povos, e parece que estamos, da mesma forma, distantes de superar tal mentalidade – embora tantas admoestações de personagens religiosos, de Buda a Jesus, do quanto o apego, a posse, enfim, a chamada “riqueza” de bens materiais é não somente ilusória, mas funesta para a uma felicidade verdadeira, aqui mesmo ou no “além”...
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