A propósito de tantos cartões com imagens de Jesus...
Num velho cocho de um diminuta estrebaria nos arrabaldes da cidade, fugido da polícia de então, com os animais mais humildes a sua volta, fruto de uma gravidez fora do casamento, acomoda-se nas palhas o pequeno Jesus, muito pobre e sem ter mais onde ficar, rejeitado em todas as hospedarias e sem contar com a solidariedade das famílias daquele lugar. Ele não é um bebê branquinho de olhos azuis e traços arianos. É um semita, com todas as características do povo daquela região naquela época. Sua lenda é tão potente e a expansão das igrejas construídas a partir dessa história vão muito além do oriente-médio, atingindo toda a Europa em poucas séculos. O distanciamento do local de origem do personagem e a concentração do poder religioso, político e econômico do cristianismo no centro europeu moldam uma configuração corporal para esse Jesus muito diferente dos traços do homem judeu característico de 2.000 anos atrás; sua imagem ganha contornos de um nórdico e sua beleza tornada padrão mundial: pele alva, olhos e cabelos claros, além de um asseio (incluindo a barba sedosa e aparada) que faz parecer que o rapaz vivia em frescos palácios e andava em carruagens por ruas calçadas – quando, na verdade, vivia numa terra semidesértica e onde hábitos de higiene eram bastante limitados, ainda mais para andarilhos sem recursos e cujos amigos mais chegados eram rudes pescadores.
Compare-se as imagens (acima): um “retrato” bastante comum de Jesus e a reprodução baseada em estudos históricos, antropológicos e biológicos sobre constituição de um típico homens de 30 anos da região de onde o “Filho de Deus” era oriundo. A “transformação”, a “maquiagem” é flagrante; tudo para forjar a referência desse “Deus encarnado” em um homem branco, limpo e “bonito” – que cause simpatia e diga qual o fenótipo da santidade que devemos reverenciar. Imagine-se ter um quadro ou estátua enorme em casa ou nos templos com a cara daquele “Lula”! Não ia “pegar”...
Eu prefiro o Jesus “feio e sujo” a esse “modelito” que o rebelde de Nazaré se configurou para fins de consumo da massa. Mas das tantas adulterações no/do cristianismo – que já nasce com um produto de múltiplas influências –, essa é só mais uma ao longo do tempo. O que há ou o que resta de original nas igrejas baseadas no nazareno?
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