Bem ao contrário do que dizem os catastrofistas, os apocalípticos, esse pessoal sempre de plantão, apavorado e apavorando outros com alarmes sobre um iminente (agora sim!) “fim do mundo”; dizendo que a humanidade vive um período de violências nunca antes acontecidos, com calamidades, conflitos e mortes absurdamente altos e inigualáveis em toda a história dos seres humanos no planeta; bem ao contrário disso, há muitos indícios de que o que ocorre de fato é o contrário.
Observo que muitos desses “profetas” frequentemente estão de mal com o seu tempo, nostálgicos de uma época de ouro perdida (na sua infância ou num passado recente, às vezes puramente ficcional), e sedentos de um fim para suas angústias e frustrações, desejando, assim, um “choque total”, que “zere” a vida – deles mesmo e de todos os demais (já que, na verdade, “o inferno são os outros”).
Com os meus amigos “adeptos” de “O Fim Está Próximo” costumo contra-argumentar que houve períodos e acontecimentos históricos em que a situação foi muito mais terrível, dramática, “apocalíptica” do que o que assistimos nesses nossos anos de vida, ou seja, as décadas que vão dos anos de 1960 até os primeiros anos da segunda década do século XXI (pela contagem gregoriana, obviamente, e considerando a minha geração). Bastaria imaginar-se em meio aos conflitos vividos por milhões de pessoas nos anos da 2ª Guerra Mundial, por exemplo – campos de concentração, bombas atômicas, ataques de aviões à população civil, fome, desespero, assassinatos em alta escala, crueldades mil.
Mas há quem não se convença e continue aferrado em suas “esperanças” de que “a civilização está nas últimas”.
Pois em entrevista para a revista
Veja de 04/01/12, o psicólogo canadense Steven Pinker (foto acima, em uma conferência), pesquisador e professor da prestigiosíssima Universidade de Harvard e autor de vários livros, diz que
“a humanidade passa por seu mais pacífico período histórico”.
Sobre a percepção/sensação de que vivemos, enquanto humanidade contemporânea, em meio a muita conturbação, ele observa que
“A mente humana é vulnerável a enganos e ilusões. Nossas impressões sobre o quão violento e cruel é um determinado episódio devem-se à nossa memória, que sempre é contaminada pelas emoções que sentimos quando presenciamos ou vivenciamos algo.”
Pinker quer evitar conclusões baseadas em “impressionismos”, em opiniões sem fundamento científico, que dão vazão a ideias fantasiosas:
“Com ajuda da alta tecnologia podemos agora não apenas teorizar sobre o grau de barbárie da pré-história, mas estimar com precisão o número altíssimo de pessoas que morriam massacradas por inimigos. Nada autoriza a ideia tão disseminada de que o passado humano foi bucólico, pastoril e pacífico. Há poucos séculos matavam-se pessoas com base em superstições avalizadas pela hierarquia religiosa, a escravidão era oficial e apenas discordar da opinião vigente podia equivaler a uma sentença de morte.”
A consolidação da democracia, do estado de direito, da ciência e do desenvolvimento intelectual – em que pese tantas falhas e desgraças ainda existentes e que tanto nos alarmam – têm diminuído a violência interpessoais e grupais (considerando, proporcionalmente, o tamanho da população humana nas diferentes épocas). Concluir que vivemos “tempos apocalípticos”, onde há um “completo desrespeito na convivência”, pode ser até interessante para tomarmos atitudes que não reforcem isso. Mas objetivamente, considerando um todo e não a nossa própria sensação, afirmar que “é o fim da picada” é alarmismo sem consistência.
Na Wikipedia tem um artigo sobre Pinker, com mais detalhes sobre suas biografia e bibliografia, além de links – até mesmo para a entrevista na
Veja:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Steven_Pinker
***Uma citação do autor retirada da entrevista e que achei interessante de um modo bem amplo, além do assunto em questão:
“O cérebro humano evolui de forma a sempre advogar a favor de si próprio. Somos os mais devotos defensores de nós mesmo. A primeira reação ao sermos confrontados com o fato de termos feito algo ruim é tentar nos convencer e aos outros de que aquilo não foi tão grave. A segunda é transferir a responsabilidade”.
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