23 de mar. de 2012
Imposição simbólica
Ou: “Por que TODOS são obrigados a deparar-se com um Jesus morto até numa sala pública?”
Impor-se aos outros é especialidade da Igreja Católica. Falo de cadeira. Como batizado, comungado e crismado dentro de um dos aparato ideológico mais poderosos do planeta, quase onipresente em países como o Brasil, onde, no passado, o Estado se associava ao Vaticano.
A inquisição é só um exemplo dessa imposição histórica do catolicismo. Ai de quem questionar, mesmo que sem querer, os seus ditames, as suas manifestações. Não pouca gente foi brutalmente torturada e morta por (bastava) suspeita de algum “heresia”. Usar ervas medicinais para curar doenças já poderia significar ser taxada de bruxa e ir parar no meio de uma fogueira armada e ateada a mando de autoridades papais. Giordano Bruno, pensador e cientista, não escapou da execução sumária, assim como tantos outros grandes homens e mulheres que divergiam do "poder único e total".
E os inquisitores continuam por aí. Em nome do humilde e tolerante Jesus, desqualificam quem ousar reivindicar o que é lei e denunciar o que atenta contra o direito de não ser permanentemente objeto do propagandismo confessional através de, por exemplo, crucifixos, estátuas e quadros em salas e outros locais públicos – caso das dependências do judiciário, que são custeadas por mim e por milhares que não professam religião simbolizada por uma cruz...
Os inquisitores do século XXI, agora já bastante desmoralizados, ameaçam, não obstante, com um apocalipse moral para breve em caso de retirada de tais aparatos, e reivindicam o respaldo de uma maioria numérica para justificar a sua imposição simbólica, chamando isso de “direito”. Falam em degradação humana, como se o atoleiro da civilização não fosse forjado em mais de 2 mil anos de domínio quase absoluto do cristianismo católico em nações como a brasileira.
Se a crença é tão consolidada entre o povo, porque uma reação tão indignada com a possibilidade de retirada de crucifixo de um local público? Para se manifestar a fé é preciso tanta ostensividade visual? Onde fica o respeito aos milhões que têm outra fé que não a cristã que necessita de um crucifixo na parede de uma sala? Onde está o respeito aos agnósticos, ateus e outras pessoas que não se filiam a religião alguma?
Repetindo-me: pode-se desrespeitar essa “minoria” em nome dessa suposta “maioria” de cristão que se apegam à exposição de simbolismos materiais em lugares que são de TODOS, TODOS, e não de uma parcela, mesmo que maioria numérica? Democracia é isso? Patrolar a minoria, que deve ficar resignada em sua inferioridade numérica? Em algum momento eu votei para ter o crucifixo exposto atrás dos funcionários públicos do judiciário, onde tudo é pago por TODOS, TODOS, e não só pela parcela católica da população brasileira? Tenha-se santa paciência com tal afronta e arrogância!
Enfim, que fezinha mais rala é essa que se abala com a possibilidade de não ver em todos os lugares um crucifixo? Isso não lembra a passagem bíblica do bezerro de ouro? Não é mais um bezerro de ouro, mas, da mesma forma, trata-se de um objeto material de culto...
Admiro pessoas dedicadas à religião, mas aquelas onde a sua fé não lhes tolda o horizonte, não lhes torna fundamentalista, e onde as outras pessoas têm o sagrado direito de divergir – como foi o caso de Jesus em seu tempo, conforme os contos evangélicos.
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Um comentário:
Nada mais inapropriado que um "Deus seja louvado" em uma nota de dinheiro. Não combina nem com a própria religião, por mais hipócrita e indissociável que seja querer separar o mundo material do espiritual em uma sociedade de consumo. "Propriedade de Jesus" em um automóvel, é tão pagão quanto absurdo, em um Estado laico, ter um letreiro na Câmera dos Deputados uma frase bíblica, como vi esses dias em uma reportagem sobre, vejam só, os pecados cometidos por representantes legislativos do povo.
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