19 de mar. de 2013

Reflexões


Acho que existe, sim, um mecanismo básico ou um sistema computacional do ser humano praticamente imutável (ou estabilizado), incontornável. Só “funciona” o que temos condições de “rodar” neste sistema orgânico. A evolução nos moldou assim.

Os sociobiólogos dizem que o que vivemos, hoje, a tal “civilização”, não passa de uma hipertrofia da multimilenar sociedade de caçadores-coletores das savanas, organização social para a qual nossos cérebros foram formatados (e, ao mesmo tempo, formataram), assim como a mão, com seu polegar opositor, própria para desenvolver e manipular as ferramentas que conhecemos, da pedra lascada aos controles dos jatos supersônicos.

Tem um livro que é já lá do final dos anos de 1960, “O Macaco Nu” (a capa de uma edição em inglês ilustra este post), do zoólogo (e popular apresentador de documentários de TV) Desmond Morris. Alguns daqui devem ter lido. Eu só conhecia umas passagens e da fama de best-seller. Pois um exemplar me caiu nas mãos e estou achando muuuito bom –  já que estou nesta fase “biologicista”, curtindo esses novos gurus como o psicólogo Steven Pinker e o geneticista Richard Dawkins.

Verdade, rapaz. Há clássicos em todas as áreas, que a gente deveria ao menos dar uma olhada. Obviamente que tem coisas descartáveis – e colocaria aí todos os textos bíblicos enquanto explicação do universo e da vida (valem como literatura, mitologia, repositório de lendas e “filosofias”). Incrivelmente – e isso é para mim cada vez mais assustador – há uma massa de pessoas que pautam suas vidas nas crendices derivadas da (re-re-re-re...)interpretação de escritos sempre adulterados, iniciados lá na Idade do Bronze, quando trovões eram literalmente interpretados como algo similar a "papai do céu está jogando bolão"...

Falo isso ainda impactado com a bizarrice da procissão do Bastião (pra quem não sabe, São Sebastião, padroeiro dos católicos Venâncio-airenses), que assisti sem querer em janeiro passado, quando íamos tomar um sorvete "italiano" ali no Só Delícia (apertado entre a Fossa do Porco e a Boca do Lobo). Olhei aquela montoeira de gente em fila se deslocando vagarosamente, e disse às minhas meninas, de brincadeira, que a fila para o sorvete estava mesmo muito grande naquele dia... Mas, em certo sentido, era isso mesmo: todos querendo sorver alguma delícia, após o sacrifício de ficar naquela bicha imensa, num calorão dos diabos, alguns de pé-no-chão e asas de anjo (crianças), cantando uns hinos – me perdoem – horrorosos em todos os sentidos.

Claro que sempre soubemos que o que salva o Bastião (a festa) é, em ordem, a galinhada, o pastel, a Fruki guaraná, a cerveja Polar, umas alemoas de short e o ápice da devoção, o Inferninho... Hehe!!

* Acho que para quem não se apega em alguma fé – o acreditar sem questionar –, na medida que o tempo passa, mais faz uso da frase atribuída aos grego Sócrates: "Só sei que nada sei". As certezas vão para as cucuias e a gente desconfia até de si mesmo... Se o cara não entra em “nóias”, acho que dá para chamar isso de Sabedoria. Claro que, várias vezes, vamos ser atropelados pelos "Senhores da Verdade", munidos de versículos bíblicos, teorias new age, máximas de Philip Kotler ou do mais refinado chavão do senso comum.

** Coisas simples, não competitivas, são tão boas: tomar um bom café, andar de bicicleta, observar um árvore... O que pode ser melhor do que vagabundear por aí, com o vento na cara ou dedilhando um violão, mesmo que toscamente? Acho que o que nos mata e adoece é tentar atender a expectativa dos outros, a ansiedade que isso gera no nosso ser. Desde a tenra infância.

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