7 de jan. de 2011

Iemanjá, perdoai-nos


Cedo da manhã do 1º de janeiro de 2011 tive o privilégio de passear na orla da praia de Rainha do Mar, no litoral gaúcho. Mas o privilégio, ao final, me deixou um amargor: na areia, o mar havia “vomitado” centenas de objetos das oferendas a Iemanjá. Afora as flores, havia frascos de perfume, sabonetes (embalados, inclusive), pentes de plástico, adereços de isopor, entre outros materiais altamente poluentes, nem um pouco biodegradáveis. Não bastasse a agressão ambiental que perpetramos no dia a dia aos oceanos, destruindo tantos seres vivos maravilhosos que vivem nessas águas, justamente na homenagem a Senhora das Águas, Soberana do Mar, Rainha do Mar, pratica-se uma barbaridade ambiental.

Se num pequeno trecho de praia havia centenas de objetos, imagine-se o quanto haverá espalhado por tantas outras areias e, muito mais terrível ainda, quanto está vagando e depositado no fundo das águas?!


Claro que há a boa fé respeitável nessas oferendas. Mas já adentrando na segunda década do século 21, com tantos conhecimentos sobre a situação da Terra, porque manter-se um ritual com "homenagens" que conspurcam um ecossistema tão miraculoso. Há aí uma contradição: a "Homenageada" assiste seu devotos poluindo a sua “casa”, o seu “mundo”, o seu “meio”, o seu "elemento"...

Acredito que as entidades espirituais não aprovam tal ritual poluente/poluidor e devem receber com tristeza essas deferências. Será que tais "seres" retribuem com algo bom? Será que, pelo contrário, aí sim fecham caminhos a devotos tão inconscientes?

Espero que os babalorixás e outras lideranças religiosas ligados ao cultos de Iemanjá – e também por ocasiões de homenagens a Rainha dos Navegantes – apurem os rituais e sigam a evolução sobre a compreensão do que está acontecendo ao planeta, onde tanta agressão ao meio ambiente natural está pondo em xeque a própria sobrevivência da humanidade, e estabeleçam outras formas de se fazer oferendas.

Que as manifestações não poluam. Quem sabe, ao contrário, sejam momentos de contribuição à educação ambiental e limpeza dos mananciais e seu entorno. Assim, cultuar Iemanjá ou Nossa Senhora dos Navegante será de fato sacralizar o mar, os rios e toda a Sagrada Natureza.

Longe de mim (embora não seja imune) o preconceito contra as religiões de matriz afro e outros cultos de devoção envolvendo as águas. Tenho respeito e simpatia a muitos rituais afro-brasileiros e apóio com entusiamo a valorização da cultura e da comunidade negra em nosso país e mundo. Mas isso não significa abrir mão à crítica de atitudes que julgo equivocadas, feitas em nome da fé – qualquer que seja o credo.

2 comentários:

La Tribu disse...

Oi Iuri!
Tu transformou em palavras tudo o que eu sempre pensei e senti nos 12 anos que vivi em Florianópolis e passeava pela praia em 1 de janeiro ou 2 de fevereiro, quando se repetem as oferendas, nao tanto quanto no ano novo.
Cada vez que via todo aquele despelote na beira da praia pensava: existe uma crenca de que, se os "presentes" voltam, é porque Yemanja nao aceitou.Será que o pessoal nao se dá conta que a Rainha do Mar nao tá feliz com isso?

Iuri disse...

Oi, Verônica!
Acho que a situação me tocou bem mais forte desta vez porque estava vendo aquilo nas primeiras horas da manhã, quando não se havia recolhido nada na beira da praia. Uma tristeza só!

Abraços!