21 de jun. de 2012

Ainda cotas y otras cositas "más"

Comentários em uma lista de e-mails:


Pois é. As cotas têm esse potencial polêmico. E aí já começa a sua positividade, ao ser um elemento “desacomodador” – provoca as pessoas a pensarem sobre o racismo e as injustiças sociais.

A reportagem que enviei (ZH, 14/06), sobre as cotas na UFRGS, me parece evidenciar o efeito positivo na prática. A chamada do texto começa por

“Turma histórica na medicina da UFRGS”

E eu dizia: É a primeira vez, vejam só, na história dessa tradicional universidade, que se tem um número significativo de negros no curso oferecido por uma instituição que é PÚBLICA – mas que estava funcionando até bem pouco tempo atrás como um mecanismo poderoso de segregação racial.

Escreveu o repórter de ZH: “Antes restrito a uma maioria esmagadora de estudantes brancos, o curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ganhou uma proporção inédita de rostos negros na matrícula para o segundo semestre.”

Se isso não é algo positivo na prática, não sei o que seja... Qual outra medida para vermos algum médico/a negro/a, ainda nesta década, clinicando em Santa Cruz, no RS, no Brasil??? Vamos esperar quantas gerações para vermos efeitos reais (como esse na medicina da UFRGS) se investindo no ensino público b´sico? Aliás, uma coisa não exclui a outra: cotas nas universidades e investimento no ensino público.

Ontem também enviei uma crônica (também saída em ZH, mas desta segunda-feira) do secretario da cultura do RS, o escritor e professor Luiz Antonio de Assis Brasil. Destaquei um trecho, que diz o seguinte:
“[...] a África, para nós, também significa uma guerra, aquela travada entre nossa consciência de hoje e a barbárie cometida no passado. Nossa luta é para, em primeiro lugar, reconhecer a escravidão e, em segundo, compensá-la de alguma forma. Não basta o compadecimento: é preciso fazer algo efetivo para amenizar a vida de milhões de brasileiros que concorrem em condições de desigualdade perante seus iguais. As cotas raciais podem ser um remédio, ainda que transitório. É agora, é nossa geração que deve fazer essa justiça. Todos nós, brancos, pardos, negros, todos devemos reparar essa violação ancestral que nos constrange e envergonha.”
Veja que são instituições (como a UFRGS) e pessoas (como Assis Brasil) da maior respeitabilidade e notório saber aplicando e defendendo as cotas. Evidente que cada um deve pensar por conta própria, mas as referências são muito consideráveis para que se diminuam as dúvidas sobre a validade das cotas. Ela JÁ ESTÃO produzindo seus efeitos (caso da UFRGS) pelo fato de elevarem a escolaridade de milhares de jovens negros/as brasileiros, cujo efeito deve se expandir ainda mais com o passar do tempo em termos de colocação no mercado de trabalho, na mobilidade social, nas posições de liderança nesse Brasil de um apartheid dissimulado – cuja violência seja ainda maior por se supor perversamente que entre brancos, negros e índios “todos somos iguais”. Não se supera a medonha escravidão de quase 400 anos só com boa vontade...

Abraços!


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Mais um fato a comemorar:

O jornal Zero Hora publicou ontem (14/06) a reportagem “Turma histórica na medicina da UFRGS”. É a primeira vez, vejam só, na história dessa tradicional universidade, que se tem um número significativo de negros no curso oferecido por uma instituição que é PÚBLICA – mas que estava funcionando até bem pouco tempo atrás como um mecanismo poderoso de segregação racial. Escreveu o repórter de ZH: “Antes restrito a uma maioria esmagadora de estudantes brancos, o curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ganhou uma proporção inédita de rostos negros na matrícula para o segundo semestre.”

Ainda há gente que contesta as cotas. Uns acham que é “uma injustiça”, porque têm a fantasia de que “todos somos iguais”, sem considerar todos os dados apontando a violenta desigualdade social e racial brasileiras. Outros temem a “racialização” (reforço da ideia de raças biologicamente estabelecidas, quando já se comprovou que, entre os humanos, isso não há), e aguardam que se passem mais 150 anos para que se reforcem políticas que contemplem, por exemplo, o ensino básico público, beneficiando, assim, os negros... Não contam com outras “sutilezas” da ideologia do racismo (sistema de pensamento discriminador de pessoas por características físicas), que excluem a criança e o jovem negros/as do processo de escolarização e dificultam enormemente a mobilidade social ascendente da população afrodescendente.

Seguem abaixo o link para acessá-la na internet.

Abraço!

LINK: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2012/06/cotas-ampliam-presenca-de-negros-no-curso-de-medicina-da-ufrgs-3790057.html



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Colegas,

Compartilho com vocês também:


Ontem [18/06] saiu em Zero Hora a crônica quinzenal do grande escritor gaúcho e atual secretário estadual de cultura - duas condições pra lá de importantes – Luis Antônio de Assis Brasil. Achei-a de uma enorme sensibilidade e coragem, se posicionando explicitamente favorável às cotas de promoção da comunidade negra.

Enquanto em nível local nos debatemos para obter um mínimo aceno das autoridades e outras lideranças municipais em outros setores da sociedade santa-cruzense, abrindo caminho para a adoção das cotas nos concursos municipais e demais áreas de mobilidade social, é estimulante que um pessoa do quilate de Assis Brasil, na condição de intelectual, artista, escritor consagrado, homem público e dirigente de primeiro escalão do governo estadual diga o que ele diz neste texto que segue abaixo.

Reúno e destaco os seguinte trechos da crônica de Assis Brasil:

“[...] a África, para nós, também significa uma guerra, aquela travada entre nossa consciência de hoje e a barbárie cometida no passado. Nossa luta é para, em primeiro lugar, reconhecer a escravidão e, em segundo, compensá-la de alguma forma. Não basta o compadecimento: é preciso fazer algo efetivo para amenizar a vida de milhões de brasileiros que concorrem em condições de desigualdade perante seus iguais. As cotas raciais podem ser um remédio, ainda que transitório. É agora, é nossa geração que deve fazer essa justiça. Todos nós, brancos, pardos, negros, todos devemos reparar essa violação ancestral que nos constrange e envergonha.”

Ressalte-se que, na atual gestão do governo estadual, tivemos, entre outros avanços, a promulgação do Estatuto da Igualdade Racial do RS e aplicação de cotas nos concursos públicos, como aconteceu no do magistério. Falta muito, mas, ao menos, é uma sinalização positiva.

Abraços!



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Oktober 2012...

Um concurso exclusivo para garotas brancas. Mas dizem que não há racismo...

Todo ano é isso. Reportagens piegas anunciam o concurso, dizendo que “está aí o sonho de toda moça santa-cruzense”. TODA moça, cara-pálida?! Claro (claro!) que não. Moças negras, mesmo que seus tataravós (como é o caso de muitas) tenham nascido em Santa Cruz, que até falem o alemão (isso existe, sim), não podem concorrer a “corte das “Sobernas da Oktoberfest – simplesmente porque mulheres de pele mais escura e cabelos negros não estão de acordo com o estereótipo da “beleza germânica”. Nem na Seleção Alemã de Futebol discrimina etnia, cor, “raça” e outras características fenotípicas. Mas aqui em Santa Cruz, na “festa alemã”, há tal resquício nazista. Diferente de Venâncio e Pelotas, por exemplo, cujas festas municipais principais (Fenadoce e Fenachim, respectivamente), aqui temos explicitamente o componente “étnico” ou “racial” como centralidade – embora haja aí inúmeras contradições e inconsistências históricas e sociais. Santa Cruz é, desde seus primórdios, desde o Faxinal do João Faria, um município formado por diversos grupos e personalidades. Mesmo assim, insiste-se numa prática discriminadora, que quase ninguém questiona.

Trata-se de um violência psicológica pouco avaliada. Aliás, isso parece nem passar na mente dos promotores. Como a comissão é comumente feita por brancos bem postos na sociedade, que preocupação teriam com uma “questão dessas”? Aliás, “as morenas” já não têm o seu Baile da Mais Nela Negra? Os promotores contam também com a passividade e alienação da própria população afrodescendente (cerca de ¼ dos santa-cruzenses) e de toda uma comunidade que acredita no mito, na lorota de que “não há racismo no Brasil” – e, muito menos, em Santa Cruz do Sul...

Para Santa Cruz se desenvolver plenamente é preciso pensar em incorporar de fato, em se construir realmente um sentimento de pertencimento comunitário para além um grupo étnico “preponderante”. Aos demais – aos “não alemães” – é como se dissessem que devem “se conformar” ou, mesmo, “agradecer” a laboriosidade, a superioridade racial que produziu a pujança (?) do município. Isso não está correto de modo algum e só alimenta cisões e injustiças tremendas e dolorosas. Igualdade racial implica em mudanças concretas e também simbólicas. Do contrário, discriminações, “apartheids” continuarão por ainda mais longos tempos...

19 de jun. de 2012

Quilombo - a palavra

Vamos ver se tem alguém aí pra ajudar na curiosidade sobre a palavra "quilombo":

Fiquei impressionado ao ler nesta semana no Youtube, quase por acaso, um comentário em espanhol sobre um show do Paul Mcartney em Motevideo. O pequeno texto coloquial continha a palavra “quilombo”. Tentei entende-la pelo contexto, mas não me ficou muito evidente.

Fui ao tradutor na internet: “quilombo” em espanhol é "desordem"...

Os sinônimos – de quilombo no espanhol – são algo ainda mais espantosos: “burdel, prostíbulo, lupanar, mancebia”. Não há dúvidas na tradução ao português: bordel, prostíbulo, casa de prostituição, lugar de devassidão, por aí.

Fiquei pensando na negatividade da palavra quilombo no espanhol. Hoje, no Brasil, ela tem um uso positivo, designando localidade tradicional de famílias negras, como vocês sabem.

Possivelmente, considerando a possibilidade da língua espanhola (pelo menos a falada no Uruguai contemporâneo) ter mantido um significado mais antigo, a designação pode ser, na sua origem, também no português, pejorativa. Pensando bem, numa visão racista, negros vivendo juntos, livremente, organizadamente não poderia ser "boa coisa"...

A mesma carga negativa existia na palavra “gaúcho” (“gaucho” em espanhol), que designava os bandoleiros, os desqualificados, os mestiços vivendo na marginalidade, ao arrepio da lei e das convenções da “boa sociedade”.


***Pois é... Pelo jeito, não temos muitas informações, não. Quilombo perdeu sua denotação/conotação pejorativa no nosso português. Mas o espanhol nos dá uma pista que a palavra teve um significado ofensivo e destrutivo.

Interessante como as palavras carregam a história, sofrendo mutações, recebendo nuances, significados, ou seja, são dinâmicas em seus significados. Costumeiramente, como todos sabemos, as palavras que se associam às pessoas negras, sua cultura e comunidades não têm uma “positividade”. É justamente o caso de “negrada” no Aurélio e de “quilombo” no espanhol...

6 de jun. de 2012

A Vila



Vindo para o trabalho, quase sempre passo em frente a um dos mais antigos e “luxuosos” condomínios fechados da cidade. Há anos fico meditando sobre a situação das pessoas montarem uma espécie de cidade paralela, murada, com equipamentos de segurança e guarda permanente, controlando totalmente a entrada e saída de todos (uma polícia privada, como tudo o mais). Dentro daquele espaço, não há cercas (a não ser as meramente estéticas) e as crianças brincam pelos gramados, calçadas e ruas com muita faceirice e a tranquilidade para os pais. É um mundo ideal – caso não pensemos muito no entorno, para aquilo que está além do “fosso dos jacarés”; as ameaças crescentes, a hostilidade cada vez mais aguda das ruas, das praças públicas, das escolas públicas... É por isso que, para se sair de lá, não bastam automóveis “comuns”: terão que ser com os mais atuais recursos de segurança e conforto e, principalmente, de segurança; e nesse quesito, caminhonetes e outros de tamanho avantajado, de preferência blindados, com sistemas de rastreamento, etc. são os preferidos do “pessoal de dentro” (os incluídos), dá para observar.

Medo. Para escaparmos disso, criamos essas “ilhas” – ilhas artificiais, com toda comodidade, mesmo que cercada de tubarões, para usar outra imagem de animais agressivos (os jacarés aludem aos castelos medievais, de reinos cercados por bárbaros, vândalos e outros grupos).

Mas hoje o que me veio à mente ao avistar o topo das belas – e caras – casas de sonhos (já que o muro alto não permite uma visão maior) foi o filme do diretor indo-americano M. Night Shyamalan, A Vila. Tornado cult por filmes como Corpo Fechado, 6º Sentido, Sinais... os últimos filmes Shyamalan não tiveram o mesmo impacto. Eu gostei de todos – sempre há algo “fora do comum” no seu cinema pop. Mas o meu preferido, depois a A Dama na Água, é este A Vila.

A Vila retrata uma comunidade clássica do Estados Unidos do século XIX. Pulando muitos e muitas partes, se verá tratar-se de um “mundo artificial”, mantido por um pacto dos fundadores e mecanismos que impedem qualquer “desconfiança". É o caso da história sobre um terrível monstro a espreita no além-fronteira do povoado e o desvio de rotas no espaço aéreo sobre “a vila”.

Mesmo com todos os cuidados, acontecimentos imprevistos forçam o contato com a “realidade maior” – adiante do muro -, e então todo o bucolismo passadista cai por terra...

Volta e meia, as “Vilas” da cidade sofrem interrupções na anestesia social dada pelo isolamento, pela contenção (um presídio de luxo, se poderia dizer). O drama externo, a violência cotidiana, aparece de diversas formas – endógena e exogenamente (um acontecimento interno ou uma “invasão” jamais esperada).

Fica uma dica e uma possibilidade de reflexão.


SINOPSE

A Vila (The Village, EUA, 2004)

Diretor: M. Night Shyamalan

Em 1897 uma vila parece ser o local ideal para viver: tranquila, isolada e com os moradores vivendo em harmonia. Porém este local perfeito passa por mudanças quando os habitantes descobrem que o bosque que o cerca esconde uma raça de misteriosas e perigosas criaturas, por eles chamados de "Aquelas de Quem Não Falamos". O medo de ser a próxima vítima destas criaturas faz com que nenhum habitante da vila se arrisque a entrar no bosque. Apesar dos constantes avisos de Edward Walker (William Hurt), o líder local, e de sua mãe (Sigourney Weaver), o jovem Lucius Hunt (Joaquin Phoenix) tem um grande desejo de ultrapassar os limites da vida rumo ao desconhecido. Lucius é apaixonado por Ivy Walker (Bryce Dallas Howard), uma jovem cega que também atrai a atenção do desequilibrado Noah Percy (Adrien Brody). O amor de Noah termina por colocar a vida de Ivy em perigo, fazendo com que verdades sejam reveladas e o caos tome conta da vila.

FONTE: www.adorocinema.com