Vindo para o trabalho, quase sempre passo em frente a um dos mais antigos e “luxuosos” condomínios fechados da cidade. Há anos fico meditando sobre a situação das pessoas montarem uma espécie de cidade paralela, murada, com equipamentos de segurança e guarda permanente, controlando totalmente a entrada e saída de todos (uma polícia privada, como tudo o mais). Dentro daquele espaço, não há cercas (a não ser as meramente estéticas) e as crianças brincam pelos gramados, calçadas e ruas com muita faceirice e a tranquilidade para os pais. É um mundo ideal – caso não pensemos muito no entorno, para aquilo que está além do “fosso dos jacarés”; as ameaças crescentes, a hostilidade cada vez mais aguda das ruas, das praças públicas, das escolas públicas... É por isso que, para se sair de lá, não bastam automóveis “comuns”: terão que ser com os mais atuais recursos de segurança e conforto e, principalmente, de segurança; e nesse quesito, caminhonetes e outros de tamanho avantajado, de preferência blindados, com sistemas de rastreamento, etc. são os preferidos do “pessoal de dentro” (os incluídos), dá para observar.
Medo. Para escaparmos disso, criamos essas “ilhas” – ilhas artificiais, com toda comodidade, mesmo que cercada de tubarões, para usar outra imagem de animais agressivos (os jacarés aludem aos castelos medievais, de reinos cercados por bárbaros, vândalos e outros grupos).
Mas hoje o que me veio à mente ao avistar o topo das belas – e caras – casas de sonhos (já que o muro alto não permite uma visão maior) foi o filme do diretor indo-americano M. Night Shyamalan, A Vila. Tornado cult por filmes como Corpo Fechado, 6º Sentido, Sinais... os últimos filmes Shyamalan não tiveram o mesmo impacto. Eu gostei de todos – sempre há algo “fora do comum” no seu cinema pop. Mas o meu preferido, depois a A Dama na Água, é este A Vila.
A Vila retrata uma comunidade clássica do Estados Unidos do século XIX. Pulando muitos e muitas partes, se verá tratar-se de um “mundo artificial”, mantido por um pacto dos fundadores e mecanismos que impedem qualquer “desconfiança". É o caso da história sobre um terrível monstro a espreita no além-fronteira do povoado e o desvio de rotas no espaço aéreo sobre “a vila”.
Mesmo com todos os cuidados, acontecimentos imprevistos forçam o contato com a “realidade maior” – adiante do muro -, e então todo o bucolismo passadista cai por terra...
Volta e meia, as “Vilas” da cidade sofrem interrupções na anestesia social dada pelo isolamento, pela contenção (um presídio de luxo, se poderia dizer). O drama externo, a violência cotidiana, aparece de diversas formas – endógena e exogenamente (um acontecimento interno ou uma “invasão” jamais esperada).
Fica uma dica e uma possibilidade de reflexão.
SINOPSE
A Vila (The Village, EUA, 2004)
Diretor: M. Night Shyamalan
Em 1897 uma vila parece ser o local ideal para viver: tranquila, isolada e com os moradores vivendo em harmonia. Porém este local perfeito passa por mudanças quando os habitantes descobrem que o bosque que o cerca esconde uma raça de misteriosas e perigosas criaturas, por eles chamados de "Aquelas de Quem Não Falamos". O medo de ser a próxima vítima destas criaturas faz com que nenhum habitante da vila se arrisque a entrar no bosque. Apesar dos constantes avisos de Edward Walker (William Hurt), o líder local, e de sua mãe (Sigourney Weaver), o jovem Lucius Hunt (Joaquin Phoenix) tem um grande desejo de ultrapassar os limites da vida rumo ao desconhecido. Lucius é apaixonado por Ivy Walker (Bryce Dallas Howard), uma jovem cega que também atrai a atenção do desequilibrado Noah Percy (Adrien Brody). O amor de Noah termina por colocar a vida de Ivy em perigo, fazendo com que verdades sejam reveladas e o caos tome conta da vila.
FONTE: www.adorocinema.com
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