29 de nov. de 2012

Fé demais...


A fé em si não é uma coisa boa. Nem má. A fé, no sentido de crença religiosa, pode levar uma pessoa a ter compaixão, ser solidária e sentir-se bem convivendo colaborativamente na sociedade.

Mas a fé também pode produzir assassinos suicidas, caso dos que jogaram dois aviões nas chamadas Torres Gêmeas nos EUA, só para citar a fé em uma das várias confissões religiosas produtoras de fanatismo, ao ponto de executar e justificar a morte de milhares e até de quem sequer tem alguma religião. Um exemplo extremo, para falar das violências (simbólicas, inclusive) cotidianas de quem tem “fé de mais” (alusão ao título brasileiro do filme “Leap of Faith”, com o comediante Steve Martin - na ilustração acima), caso da imposição de crucifixos, quadros e estátuas de santos e outros objetos de culto católico em lugares públicos do Estado.

Assim, as virtudes da fé são relativas; jamais podem ser absolutizadas – tidas como natural e inequivocamente positivas, sempre a produzir bons frutos. Num mundo, como dissemos, onde matanças são feitas em nome de Deus e profetas, a fé não pode ser vista com tanta e tranquila beatitude...

Li que um padre disse “A fé é tudo e Deus, o máximo”, ou algo parecido. Sim, para quem a tem, a fé pode ser tudo – e nada precisa de embasamento, de comprovação reiterada; Jesus transformou água em vinho e ponto final, foi literal; Deus transformou o bastão de Abraão em uma cobra e, sim, isso aconteceu de fato – não é nenhuma alegoria ou ilusionismo ou história para impressionar... E Deus é o máximo porque não admitimos algo que transcenda o humano conceito “Deus”; é o nome para tudo que não conseguimos explicar.

Deus é algo que está além de nossa capacidade de entendimento e supomos que tal “ser” seja algo muito bom, que nos rege com uma sabedoria sempre boa ao final dos finais – mesmo quando uma criança, se divertindo com os pais no pátio de casa, é atingida por um poste, numa coincidência trágica, dolorosa e revoltante, mas que tenta-se entender como algum desígnio divino, “vontade do Pai” ou carma... Pois a fé também pode consolar em casos do tipo – e isso, para nós, seres frágeis, falíveis, é um alento, um mecanismo de defesa da saúde mental; não raro aceitamos falácias para nos auto-proteger e proteger outros da tremenda dor que a existência pode implicar e seguidamente implica.

Mas, reafirmando, a fé também pode causar sofrimento e limitar a própria vida da pessoa. Em nome da fé posso restringir ou abdicar do exercício da minha sexualidade sem que eu tenha condições psico-biológicas para tal repressão, o que vai me levar a adoentar-me, ou perverter a minha libido de forma perigosa a outros, até mesmo a crianças.

Definitivamente, a fé não é tudo e Deus é o máximo que alguns encontram para designar aquilo que nos foge ao entendimento e aceitação...

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