Na onda das adaptações cinematográficas de clássicos das histórias em quadrinhos, quero trazer à baila o debate sobre se as HQs podem ser caracterizadas como literatura. Eu digo que sim, podem, sim!
Numa reportagem sobre o filme que foi lançado dias atrás, Watchmen, baseado (com muito sucesso, me parece – mesmo considerando os protestos do próprio autor da obra original), o inglês Alan Moore [foto ao lado - divulgação], escritor e roteirista (o desenho, igualmente considerado um primor – cuja combinação com o texto escrito é justamente a essência característica desta literatura – é de Dave Gibbons). Enfim, a reportagem diz:
“’Watchmen’ ganhou vários prêmios Eisner (o Oscar dos quadrinhos) e foi a primeira HQ a levar um Hugo, a premiação máxima de ficção científica que, até então, era reservada somente à literatura tradicional. Com essa carreira promissora, a HQ transformou-se em um fenômeno da cultura pop a ponto de a revista ‘Time’ elegê-la um dos 100 romances mais importantes do século 20.”
Ou seja: mais do que literatura, Watchmen é considerado por uma das mais conceituadas revistas mundiais como um romance fundamental do século XX.
Claro que nessa importância não entram necessariamente questões de uma estética literária normalmente considerada (administrada/controlada, quem sabe) pelas “academias” – esses antros que não raro estão carregados de boçalidade e preconceitos diversos. Provavelmente, entram nesse destaque a influência em termos de quantidade de leitores, comentários e outras derivações geradas pela obra.
A reportagem ainda diz que “Nessa sua obra-prima, Moore questiona autoridade, vigilância, justiça, HQs e histeria em um roteiro adulto, pesado e violento.”
Numa reportagem sobre o filme que foi lançado dias atrás, Watchmen, baseado (com muito sucesso, me parece – mesmo considerando os protestos do próprio autor da obra original), o inglês Alan Moore [foto ao lado - divulgação], escritor e roteirista (o desenho, igualmente considerado um primor – cuja combinação com o texto escrito é justamente a essência característica desta literatura – é de Dave Gibbons). Enfim, a reportagem diz:
“’Watchmen’ ganhou vários prêmios Eisner (o Oscar dos quadrinhos) e foi a primeira HQ a levar um Hugo, a premiação máxima de ficção científica que, até então, era reservada somente à literatura tradicional. Com essa carreira promissora, a HQ transformou-se em um fenômeno da cultura pop a ponto de a revista ‘Time’ elegê-la um dos 100 romances mais importantes do século 20.”
Ou seja: mais do que literatura, Watchmen é considerado por uma das mais conceituadas revistas mundiais como um romance fundamental do século XX.
Claro que nessa importância não entram necessariamente questões de uma estética literária normalmente considerada (administrada/controlada, quem sabe) pelas “academias” – esses antros que não raro estão carregados de boçalidade e preconceitos diversos. Provavelmente, entram nesse destaque a influência em termos de quantidade de leitores, comentários e outras derivações geradas pela obra.
A reportagem ainda diz que “Nessa sua obra-prima, Moore questiona autoridade, vigilância, justiça, HQs e histeria em um roteiro adulto, pesado e violento.”
Para quem tem interesse em literatura, não dá, em nome de algum tipo de pré-noção, ficar sem ao menos conferir HQs como Watchmen. Isso que não estamos falando no “mestre dos mestres” – Will Eisner, do The Spirit, e que cunhou a expressão “graphic novel”, e caras ainda mais pops como Frank Miller, autor de Sin City, 300 e Elektra.
LOST GIRLS
To lendo neste fim de semana umas coisas sobre o Alan Mooore, meu novo "muso" dos quadrinhos. Britânico, diferente do Eisner, americano. É dele o Watchmen, que estava no cinema.
Mas o mais interessante: Sua última obra, em três volumes, se chama Lost Girls. Em português ficou assim também, Lost Girls.
Ele escreve e roteiriza e sua mulher, Melinda, desenha. Muito bonito. "Uma graphic novel erótica que conta as aventuras sexuais de três importantes personagens femininas fictícias do final do século 19 e início do século 20: Alice, de 'Alice no País das Maravilhas'; Dorothy Gale, de 'O Mágico de Oz'; e Wendy Darling, de 'Peter Pan'."
Pornográfico? O cara fala sobre isso. Diz que foi complicado, mas que, afinal, esse negócio de escamotear algo que move o mundo e está presente diretamente na vida de todos 100% do tempo, é uma idiotice. Mas ele mesmo, em entrevista, pondera:
"A pornografia que temos hoje parece não ter nenhum valor artístico, parece criada para estimular as pessoas a qualquer outra coisa que não sexo. Uma das melhores coisas da arte, da arte genuína, é que quando vemos uma imagem ou descrição de algo que se relacione com um sentimento que temos e não conseguimos expressar, ela nos faz sentir menos sozinhos. E o que a pornografia de hoje faz é o exato oposto. Faz com que você se sinta envergonhado, mais sozinho do que nunca. Vemos ou lemos pornografia sozinhos, como se o nosso prazer fosse algo para se envergonhar, algo deplorável. E isso é uma tremenda pena se pensarmos que se trata de uma atividade humana tão prazerosa. Praticamente todos os diferentes gêneros de ficção que temos hoje são baseados nessas áreas improváveis da atividade humana, como caubóis, detetives e monstros. Enquanto aquilo que mais temos em comum, que é algum tipo de prazer sexual, só pode ser abordado nesse gênero grosseiro, tolo e por baixo do pano pelo qual todos se sentem culpados e envergonhados. O que pretendíamos com 'Lost girls' era eliminar essa relação imediata entre pornografia e vergonha. Pensamos que se pudéssemos produzir uma pornografia que fosse bela o suficiente e inteligente o suficiente e séria em sua aplicação então talvez fosse possível que pessoas civilizadas e dignas não se sentissem envergonhadas de ter uma obra pornográfica em suas casas."
Moore é um cara muito interessante: anarquista, contestador, corre por fora da indústria cultural mais mercenária, crítico das adaptações de Holywood e seus mercenários...
Ele e Melinda levaram 16 anos até aprontar os três volumes do Lost Girls. Arriscaram um monte usando três personagens tão importantes na literatura infanto-juvenil mundial. São peças-chaves em três romances fundamentais. Mas parece que deu certo, pelo pouco que pude ver até agora.
O Watchmen, que vi no cinema na quarta-feira, é uma adaptação de uma “graphic novel” das mais importantes. Ao pondo d'"a revista ‘Time’ elegê-la um dos 100 romances mais importantes do século 20". E ninguém sabe disso lá no curso de Letras da facul... Triste limitação...
Ele escreve e roteiriza e sua mulher, Melinda, desenha. Muito bonito. "Uma graphic novel erótica que conta as aventuras sexuais de três importantes personagens femininas fictícias do final do século 19 e início do século 20: Alice, de 'Alice no País das Maravilhas'; Dorothy Gale, de 'O Mágico de Oz'; e Wendy Darling, de 'Peter Pan'."
Pornográfico? O cara fala sobre isso. Diz que foi complicado, mas que, afinal, esse negócio de escamotear algo que move o mundo e está presente diretamente na vida de todos 100% do tempo, é uma idiotice. Mas ele mesmo, em entrevista, pondera:
"A pornografia que temos hoje parece não ter nenhum valor artístico, parece criada para estimular as pessoas a qualquer outra coisa que não sexo. Uma das melhores coisas da arte, da arte genuína, é que quando vemos uma imagem ou descrição de algo que se relacione com um sentimento que temos e não conseguimos expressar, ela nos faz sentir menos sozinhos. E o que a pornografia de hoje faz é o exato oposto. Faz com que você se sinta envergonhado, mais sozinho do que nunca. Vemos ou lemos pornografia sozinhos, como se o nosso prazer fosse algo para se envergonhar, algo deplorável. E isso é uma tremenda pena se pensarmos que se trata de uma atividade humana tão prazerosa. Praticamente todos os diferentes gêneros de ficção que temos hoje são baseados nessas áreas improváveis da atividade humana, como caubóis, detetives e monstros. Enquanto aquilo que mais temos em comum, que é algum tipo de prazer sexual, só pode ser abordado nesse gênero grosseiro, tolo e por baixo do pano pelo qual todos se sentem culpados e envergonhados. O que pretendíamos com 'Lost girls' era eliminar essa relação imediata entre pornografia e vergonha. Pensamos que se pudéssemos produzir uma pornografia que fosse bela o suficiente e inteligente o suficiente e séria em sua aplicação então talvez fosse possível que pessoas civilizadas e dignas não se sentissem envergonhadas de ter uma obra pornográfica em suas casas."
Moore é um cara muito interessante: anarquista, contestador, corre por fora da indústria cultural mais mercenária, crítico das adaptações de Holywood e seus mercenários...
Ele e Melinda levaram 16 anos até aprontar os três volumes do Lost Girls. Arriscaram um monte usando três personagens tão importantes na literatura infanto-juvenil mundial. São peças-chaves em três romances fundamentais. Mas parece que deu certo, pelo pouco que pude ver até agora.
O Watchmen, que vi no cinema na quarta-feira, é uma adaptação de uma “graphic novel” das mais importantes. Ao pondo d'"a revista ‘Time’ elegê-la um dos 100 romances mais importantes do século 20". E ninguém sabe disso lá no curso de Letras da facul... Triste limitação...
Um comentário:
Fiquei vidrado com Watchmen, literatura, não pura, mas literatura.
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