11 de jun. de 2009

O golpe fatal – sobre a morte de David Carradine, de Kung Fu e Kill Bill

O famoso ator David Carradine, que interpretou o desgarrado monge Shaolin no não menos famoso seriado televisivo Kung Fu – exibido originalmente a partir de 1972 pela rede ABC dos EUA – foi encontrado morto no quarto de um hotel na Tailândia no último dia 4 de junho (2009). Tinha 73 (alguns falam em 72) anos e tudo indica que ele não se matou, embora tenha sido encontrado com improvisadas cordas no pescoço, dependurado dentro do guarda-roupa do seu quarto em Bangcoc, onde participava de filmagens.

O que ele estava fazendo daquele jeito? Ora, nada menos que praticando uma técnica da velha punheta, que recebe o "nome técnico de "hipóxia auto-erótica"*. Ou seja, Carradine masturbava-se quando lhe abateu um “piripaque” devido à auto-asfixia. O coração do também intérprete do chefão dos filmes Kill Bill I e II parou, interrompeu seu vai e vem, e o septuagenário escafedeu-se de maneira irrecuperável... Bizarro. Talvez nem Tarantino pudesse imaginar um desfecho assim patético...

Sabe-se que a asfixia pode produzir uma ereção vigorosa. Combinada com todo o composto emocional do limiar da morte (ou da vida), situação tão ligada à libdinosidade (“Freud explica!”), estamos diante de uma poderosa “auto-gratificação” sexual.

Carradine poderia ter mulheres quase à vontade. Grana não lhe faltava. Estava hospedado nababescamente. Mas optou pela masturbação! Eis um grande mistério... Talvez até em acordo com seu personagem “Gafanhoto”, andarilho fugido da China (Tailândia também é no Oriente...), naquela mistura melancólica e enigmática de western (ou bang bang) e filme de artes-marciais. Aos 73 anos, homem de sucesso, recuperado do alcoolismo, rodeado de belas moças, David apela para "la palmita de la mano", o “cinco-contra-um”, “descabelar o palhaço”, “descascar a banana”...

O que há em nós para esta busca de regozijo erótico auto-suficiente? O onanismo** parece uma religião pagã bastante popular pela vida e mundo afora. De alguma maneira, estabelece um “religação” conosco mesmo e nos proporciona momentos epifânicos...

Enfim... O monge solitário de Kung Fu acabou manifestando-se de uma forma inusitada na morte de Carradine, seu intérprete agora eterno. O ator morreu buscando solitariamente, numa íntima e, no caso, perigosa arte, sua redenção – nem que seja por segundos –, de alguma forma mimetizando o personagem Kwai Chang Caine...

(Mas vamos esperar as perícias e investigações para sabermos mesmo o que aconteceu.)

* Rogério Bernardo, urologista, em seu blog - http://papocomrogerio.blogspot.com -, diz que "Hipóxia Erótica ou Hipóxia auto-erótica, [é o] ato de provocar privação de oxigênio com aumento da concentração de dióxido de carbono da circulação sanguínea, o que provocaria uma maior excitação e um acréscimo do prazer. / Alguns autores atribuem ao efeito alucinógeno do aumento do aumento de monóxido de carbono. Outros defendem que a elevação das catecolaminas, entre elas a adrenalina seria a responsável pelo prazer provocado pela hipóxia erótica. / Para se ter uma idéia da quantidade de pessoas que já faleceram desse mal, cerca de 500 a 1.000 nos EUA, faleceram em apenas um ano decorrente de hipóxia erótica. / As técnicas de privação de oxigênio são várias: cinto, corda, retalhos de panos, sacos plásticos, etc. Outro dado é que o acometimento é quase sempre masculino, e geralmente acessórios sexuais ou roupas femininas são encontrados próximos às vítimas. Em alguns casos, as vítimas foram encontradas vestidas em roupas femininas e até com perucas. / Os praticantes da hipóxia erótica vivem em uma tênue linha entre o prazer exacerbado e a morte. É que a alucinação provocada pelo aumento do dióxido de carbono pode levar a uma perda de consciência e o indivíduo não consegue desfazer a constricção cervical, ou seja, ocorre o enforcamento até a morte. / Estamos longe de entender o que aflora no universo da sexualidade humana".

** Moacyr Scliar lançou recentemente (junho de 2009) mais uma obra, abordando um tema que entrou em questão aqui, a "paixão solitária" - e o livro se chama justamente de Manual da Paixão Solitária (Companhia das Letras, 2009). Conhecedor e apreciador da bíblia e tradições da cultura e história hebraicas, fala do onanismo, termo derivando de um personagem bíblico. Conforme a reportagem Em busca do prazer solitário, de Chico Caldeira (EpNews), publicada na Gazeta do Sul (Santa Cruz do Sul) o livro "trata da trajetória do patriarca Judá, de seus filhos Er, Onan [olha aí o nome do cara!] e Shelá e de suas conturbadas relações com a linda Tamar. [... Mas] o verdadeiro teórico e defensor do sexo solitário foi Shelá [Onam só levou a fama...], o irmão caçula que, impedido pelo pai de desposar a fogosa Tamar, busca consolo com as mãos numa caverna escura e usa a imaginação para transformar a masturbação em um sofisticado ritual [- e nisso Carradine se deu mal da última vez...]. Segundo Shelá, masturbar-se é uma espécie de transfiguração, um momento culminante da existência humana [- no caso do ator, culminou na radicalidade da morte...].

Scliar diz que "o texto bíblico também deve ser lido da mesma forma que os livros de autores clássicos. 'Como um livro de Shakespeare ou Cervantes, os jogos de poder e as intrigas amorosas comuns a nossa natureza estão nessa obra. A Bíblia é um verdadeiro catálogo das paixões humana.'"

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