27 de set. de 2009

Sobre o sonho



“O sonho é uma pequena porta escondida nos recantos mais íntimos e secretos da alma, abrindo-se para dentro dessa noite cósmica que era psique muito antes de existir qualquer consciência do ego, e que permanecerá psique até onde quer que a nossa consciência do ego possa entender. Pois toda a consciência do ego está isolada: ela separa e discrimina, conhece apenas pormenores, e vê apenas o que possa estar relacionado ao ego. Sua essência é a limitação, embora alcance a nebulosa mais distante entre as estrelas. Toda consciência separa; mas, nos sonhos, assumimos a aparência daquele ser humano mais universal, mais verdadeiro e mais eterno, que vive na escuridão da noite primordial. Lá, ele ainda é o todo, e o todo está nele, indistinguível da natureza e despido de toda condição de ego. É dessas profundezas que a tudo unificam que surge o sonho, seja infantil, grotesco e imoral. Em sua transparência e veracidade ele se assemelha a uma flor que nos faz enrubescer diante da insinceridade de nossas vidas.”





A citação acima está no livro A Imagem Mítica, de Joseph Campbell (Papirus, 1994). É uma passagem de C.G. Jung – “The meaning of psychology for modern man", Civilization in transition, conforme consta na nota da obra de Campbell.

O célebre estudioso apresenta várias imagens e discorre, com sua vertiginosa – mas acessível – erudição, sobre alusões simbólicas que buscam entender e explicar (compreender) a existência humana e seu(s) mundo(s). Nesta primeira parte, a análise está centrada numa imagem, “Vishnu Sonhando o Universo” [ilustração desta postagem], que tenta traduzir em sítese o fundamento da cosmovisão hindu: “A idéia que se tem do universo, de seus céus, de infernos e de tudo o que nele existe, como se fosse um grande sonho sonhado por um único ser e no qual todas as personagens oníricas também estão sonhando, encantou e deu forma a uma civilização inteira na Índia”, diz Campbell.

Ao especular sobre “quem sonha, quem é sonhado”, Campbell pergunta:

“Somos, você e eu, do modo como nos conhecemos, reflexo de algum mistério solene? E, se somos, estará esse mistério adequadamente representado em nossa imaginação de ‘Deus’?”




***Naquelas “coinsciências”, no mesmo momento que estou lendo citações de Jung no livro de Campbell, estou, sem planejamento, escutando canções do The Police, de seu disco Synchronicity (1983). Canções que muitos escutamos nos anos 80 e que permanecem com um “patrimônio” comum de velhos amigos de infância e adolescência. E com várias referência a Jung – estímulo para lermos suas obras ou coisas relacionadas ao seu pensamento, e que Sting usou para compor canções deste disco.

Abaixo, a letra da canção que abre o “LP”:



Synchronicity I

With one breath, with one flow
You will know
Synchronicity

A sleep trance, a dream dance,
A shared romance,
Synchronicity

A connecting principle,
Linked to the invisible
Almost imperceptible
Something inexpressible.
Science insusceptible
Logic so inflexible
Causally connectable
Yet nothing is invincible

If we share this nightmare
Then we can dream
Spiritus mundi

If you act, as you think,
The missing link,
Synchronicity

We know you, they know me
Extrasensory
Synchronicity

A star fall, a phone call,
It joins all,
Synchronicity

It's so deep, it's so wide
Your inside
Synchronicity

Effect without a cause
Sub-atomic laws, scientific pause
Synchronicity...

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