19 de set. de 2013

Procisão: a fé precisa ser cultivada para não morrer por sua natural fragilidade

“Cultivar a fé” parece ser uma necessidade dos crentes e das instituições que dependem da crendice para se justificarem e justificarem os seus custos materiais e morais. Ainda mais uma fé específica, como em seres e poderes lendários, mágicos, sobrenaturais, característicos de religiões – ou nos adeptos que levam os escritos ao pé da letra – como o cristianismo, o hinduísmo e outros “ismos”; precisam competir num mercado cada vez maior de igrejas e assemelhados.

Se não se cultiva a fé, ela não brota e perece, posto que não é totalmente “natural”, “ecossistêmica”, “nativa” – é quase um ser cheio de enxertos ou, por assim dizer, geneticamente modificados, tornando-se como esses cães "puros", cujos antepassados, os lobos, ficaram tão distantes ou distorcidos no processo evolutivo – se ressaltando artificialmente determinadas características (orelhas longas, pelagem curta etc.) em poucas gerações (por cruzamento às vezes entre aparentados imediatos) –, que ficam sucetíveis a várias doenças, atrofiamentos, entre outras disfunções do corpo.

Presumo que forja-se a fé a partir ou fundamentado em uma tendência natural do ser humano para aderir a ideias, a imaginações, a idealizações que aliviem a nossa consciência humana da finitude e da eminência da extinção a qualquer momento, visto a hostilidade do meio ambiente, as fragilidades físicas que temos, ainda mais considerando priscas eras, onde os humanos eram muito mais um predado do que predador. Afora a consideração sobre a nossa capacidade perceptiva, sentimental e intelectual limitada, limitando o entendimento da vastidão e complexidade que nos cerca. Dessas escuridão e medo, acredito aflorar as religiões mais sombrias (outras, que chamaria de luzidias, podem derivar da observação da incomensuralidade do mundo, da beleza incognoscível das coisas e por aí, surgindo epifanias canalizadas para um “culto à vida”).

Assim, demonstrações de fé em coletividade, como as procissões, são meios de “dar um up”, revigorar aquilo que é uma crença e pode a qualquer momento esmorecer – visto as inúmeras contradições, as inúmeras perguntas sem resposta (ou com resposta francamente débeis) e os apelos para outras formas de se pensar a vida que se usam de outros cabedais e, mesmo, as formas não-religiosas de conceber – e viver – a vida, sem necessidade de divindades ou algo que as valham.

Cada vez me choca mais ver uma multidão entoando cânticos e palavras de ordem, empunhando imagens, estátuas, cruzes e outros adereços simbólicos, tudo lastreado em tradições que se erguem em suposições sem comprovação ou que se desmontam sob qualquer análise mais racional; que não recorra a velha “é uma questão de fé”, encerrando-se qualquer argumentação, qualquer questionamento desse “pilar” (Alguns dizem: “Eu acredito porque acredito, meus avós, meus pais acreditavam e pronto!”). Entretanto, em meio ao pântano, há positividades. Admiro a compaixão cristã e a busca de um vida virtuosa, desapegada. Infelizmente, muitas vezes isso não passa de um idealismo ou de uma capa, encobrindo o seu contrário: a guerra, a imposição, a discriminação, a ganância, enfim, a violência em nome Jesus e outros avatares.

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