Apesar de ter um gosto enorme por leitura – literaturas variadas, me canso um pouco de certos “culto às letras” e outras efusões livrescas. Como sempre repito, a vida é bem mais do que ler e escrever, de resto uma atividade relativamente recente entre os seres humanos. Há coisas bem mais antigas, atávicas e intensas. Por exemplo: olhar, cheirar, morder e mastigar uma grande fatia de denso bolo de manteiga com grossa cobertura de chocolate meio-amargo. Ler isso pode ser maravilhoso e dar água na boca. Mas “praticar” o ato descrito pode ir muito mais além e ser a mais divina e visceral poesia.
Assim, volta e meia, me vem a lembrança o poema do Pessoa:
LIBERDADE...
Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
E eu diria, então, finalizando: Arte, arte mesmo, é saber comer aquele bolo de manteiga com cobertura de chocolate.
*Sobre um poema de Leminski: Escrever também é viver. Mas viver é mais, beeeemmm mais que escrever. É o que eu penso, para não supervalorizar a escrita e a leitura, um recurso, um instrumento humano entre vários e muitos e recentes no longo processo evolutivo humano no planeta. Adoro o Leminski desde quando ele era vivo e levava uma vida a la Bukovski (agora já dá pra dizer "a la Leminski")...
22 de out. de 2013
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