Observando algumas comunidades no orkut, que “tiram” o Tapejara – personagem do desenhista e escritor (quadrinista) Paulo Louzada – para “defensor” do gauchismo, entendido como uma autoglorificação, uma autoconsideração superlativa, como se fossemos nós, gaúchos, “o sal da terra”.
Pois eu acho que “o último guasca” é exatamente isso: um guasca (mas não o último), ou seja, o homem rude, que vive nos interiores ou beiradas de cidades, afastado dos refinamentos citadinos, tendo contados esporádicos ou indiretos com o cotidiano “civilizado” da “boa sociedade”. O dia-a-dia do Tapejara é com os animais, as pessoas e o ambiente de uma pequena comunidade no fundo de algum rincão (ou vila de arrabalde e até mesmo na periferia empobrecida de grandes centros urbanos).
Assim, Tapejara se cria, se forma, se educa e socializa em uma “outra lógica”, que, ao se chocar com a “normalidade”, nos faz rir da sua “grossura” e “exotismo” – um xucro, enfim.
Mesmo inspirado em elementos da estátua O Laçador, não é um “modelo de gaúcho”, desses estereotipado pelo MTG – certinho, limpo, com o lenço combinando com a bombacha, que vive em apartamento nas cidades e vai de carro para ensaios de dança e lê manuais que normatizam o comportamento “tradicionalista” (acs!). Não. Ele é desengonçado e parece um palerma, fanfarrão e sentimental. Eu disse “parece”, ou “aparenta”, porque, na verdade, estamos rindo é de alguém que colide com as posturas tidas como “corretas”, “altaneiras”, “civilizadas”.
E nisso , além da gargalhada, surge a nossa simpatia pelo “animal” – justamente porque ele não é o “centauro dos pampas”; não é “um certo capitão Rodrigo”; não é, muito menos, algum gaúcho de programa dominical de TV. Não tem refinamentos intelectuais, acadêmicos, literários; nem um saudosismo piegas de algo que, a rigor, é ficcional, fantasioso, jamais existente; é romanceado como a índia Iracema de José de Alencar. Tapejara VIVE na terra e, embora a comédia, é um gaúcho REAL, de hoje.
A genial criação de Louzada é um “índio” pobre, fora de modismos, desconhecedor de “regras de etiqueta”; possui apenas o seu rancho, seus amigos humildes e sua égua amada (em toda a extensão do termo!); sua instrução é mínima e suas necessidades, preocupações e desejos, básicos. Mas não é um “mal-educado” ou um turrão. É, na verdade, cheio de sensibilidades, fugindo ao machistismo gauchesco, tão insistentemente reivindicado, que virou o seu contrário no anedotário nacional – o gaúcho só pode ser um “boióla” por de traz de tanta necessidade de afirmação de sua masculinidade.
Tapejara é bagual, mesmo! Louzada não lhe dá polimentos de CTG. Mostra características do cotidiano e cultura pampianas a partir dos homens e das mulheres simples, sem posses, que sobrevivem em cantos marginais do RS – e também pela Argentina, Uruguai e Paraguai. Aliás, Tapejara – “Senhor do Caminho” em tupi-guarani – tem tudo a ver com O Banheiro do Papa, belo filme que fala da vida de gaúchos uruguaios, vivendo nos arrabaldes da cidade de Mello, próximo a Aceguá, no Brasil (fica a dica).
Nas tiras, faz-se troça da própria galhardia e coragem “gaúchas”. Exagerada por uma história mitologizada, reproduzida acriticamente, Tapejara, ao contrário, mostra a humanidade do gaúcho; o ser humano falho e risível; o perfeito idiota que todos podemos ser muitas vezes; mostra-nos que, mesmo em nossas limitações de “cultura”, podemos ter as maiores nobrezas; mesmo considerando singularidades, somos, como gaúchos, gente comuns, e não super homens.
Para terminara a conversa, Louzada, por suas historietas, presta um grande serviço, ao mesmo tempo fazendo piada e, paradoxalmente, pela comédia ficcional e até nonsense, apresentando características socioculturais de um gaúcho mais factual.
Diz-se que saber rir de si mesmo é uma virtude positiva. Não um rir de façanhas e ganhos para se gabar, mas um rir das nossas limitações e falhas que nos fazem todos humanos, irmanados por esta condição de seres precários.
Pois eu acho que “o último guasca” é exatamente isso: um guasca (mas não o último), ou seja, o homem rude, que vive nos interiores ou beiradas de cidades, afastado dos refinamentos citadinos, tendo contados esporádicos ou indiretos com o cotidiano “civilizado” da “boa sociedade”. O dia-a-dia do Tapejara é com os animais, as pessoas e o ambiente de uma pequena comunidade no fundo de algum rincão (ou vila de arrabalde e até mesmo na periferia empobrecida de grandes centros urbanos).
Assim, Tapejara se cria, se forma, se educa e socializa em uma “outra lógica”, que, ao se chocar com a “normalidade”, nos faz rir da sua “grossura” e “exotismo” – um xucro, enfim.
Mesmo inspirado em elementos da estátua O Laçador, não é um “modelo de gaúcho”, desses estereotipado pelo MTG – certinho, limpo, com o lenço combinando com a bombacha, que vive em apartamento nas cidades e vai de carro para ensaios de dança e lê manuais que normatizam o comportamento “tradicionalista” (acs!). Não. Ele é desengonçado e parece um palerma, fanfarrão e sentimental. Eu disse “parece”, ou “aparenta”, porque, na verdade, estamos rindo é de alguém que colide com as posturas tidas como “corretas”, “altaneiras”, “civilizadas”.
E nisso , além da gargalhada, surge a nossa simpatia pelo “animal” – justamente porque ele não é o “centauro dos pampas”; não é “um certo capitão Rodrigo”; não é, muito menos, algum gaúcho de programa dominical de TV. Não tem refinamentos intelectuais, acadêmicos, literários; nem um saudosismo piegas de algo que, a rigor, é ficcional, fantasioso, jamais existente; é romanceado como a índia Iracema de José de Alencar. Tapejara VIVE na terra e, embora a comédia, é um gaúcho REAL, de hoje.
A genial criação de Louzada é um “índio” pobre, fora de modismos, desconhecedor de “regras de etiqueta”; possui apenas o seu rancho, seus amigos humildes e sua égua amada (em toda a extensão do termo!); sua instrução é mínima e suas necessidades, preocupações e desejos, básicos. Mas não é um “mal-educado” ou um turrão. É, na verdade, cheio de sensibilidades, fugindo ao machistismo gauchesco, tão insistentemente reivindicado, que virou o seu contrário no anedotário nacional – o gaúcho só pode ser um “boióla” por de traz de tanta necessidade de afirmação de sua masculinidade.
Tapejara é bagual, mesmo! Louzada não lhe dá polimentos de CTG. Mostra características do cotidiano e cultura pampianas a partir dos homens e das mulheres simples, sem posses, que sobrevivem em cantos marginais do RS – e também pela Argentina, Uruguai e Paraguai. Aliás, Tapejara – “Senhor do Caminho” em tupi-guarani – tem tudo a ver com O Banheiro do Papa, belo filme que fala da vida de gaúchos uruguaios, vivendo nos arrabaldes da cidade de Mello, próximo a Aceguá, no Brasil (fica a dica).
Nas tiras, faz-se troça da própria galhardia e coragem “gaúchas”. Exagerada por uma história mitologizada, reproduzida acriticamente, Tapejara, ao contrário, mostra a humanidade do gaúcho; o ser humano falho e risível; o perfeito idiota que todos podemos ser muitas vezes; mostra-nos que, mesmo em nossas limitações de “cultura”, podemos ter as maiores nobrezas; mesmo considerando singularidades, somos, como gaúchos, gente comuns, e não super homens.
Para terminara a conversa, Louzada, por suas historietas, presta um grande serviço, ao mesmo tempo fazendo piada e, paradoxalmente, pela comédia ficcional e até nonsense, apresentando características socioculturais de um gaúcho mais factual.
Diz-se que saber rir de si mesmo é uma virtude positiva. Não um rir de façanhas e ganhos para se gabar, mas um rir das nossas limitações e falhas que nos fazem todos humanos, irmanados por esta condição de seres precários.
2 comentários:
Gostei do texto. E concordo contigo. Também acho o Tapejara um cara muito legal e engraçado que, com sua simplicidade, faz algumas piadas bem coerentes com o dia-a-dia, dando pontos para refletirmos tb.
Valeu a atenção, meu velho! Aquele abraço!
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