“Para mim, a escola como meio de educação, era nula. Durante toda a minha vida, fui singularmente incapaz de dominar qualquer língua. Prestava-se uma atenção especial à composição dos versos, o que nunca consegui fazer direito. Eu tinha muitos amigos e juntei uma coleção de versos antigos, os quais, devidamente emendados, às vezes com a ajuda de outros meninos, eu conseguia fazer com que servissem para qualquer assunto.”
Quem fala estas coisas é um dos grandes gênios da civilização, Charles Darwin, em sua autobiografia (Contraponto, 2000). Sobre seu período de bacharelado em Cambridge, sua avaliação também não é positiva: “meu tempo foi completamente desperdiçado, no que diz respeito a estudos acadêmicos, quanto em Edimburgo [estudando medicina] e na escola [na infância].”
Darwin talvez exagere ou faça uma caricatura, mas creio que ele estava querendo ressaltar que o mais importante eram as vivências, a rede de relações e o contato com outros assuntos de interesse particular não previstos e habilidades não valorizadas no currículo daqueles educandários que ele frequentou. “Nenhuma atividade em [meu tempo de] Cambridge foi praticada com tanto interesse ou me deu tanto prazer quanto colecionar besouros”, anotou. Podia parecer um “mero passatempo”, mas foi-lhe fundamental, por sorte não impedido por supostas “coisas mais relevantes”. Percebia o menosprezo: “era considerado por todos os professores e por meu pai um menino nada excepcional, abaixo do padrão intelectual médio”. Recebeu um pito do seu progenitor: “Você só dá importância à caça, aos cães e à captura de ratos, e será uma vergonha para si mesmo e para sua família”.
A grande “escola” de Darwin foram, aos 22 anos, os quase cinco anos no navio Beagle: “Nessa viagem, tive a primeira formação ou educação verdadeira de minha mente.” Sua resolução de trabalhar com afinco no registro do que observava e, por conta própria, estudar os assuntos, lhe fez o naturalista extraordinário, ao ponto de escrever uma das obras mais importante do mundo contemporâneo, “A origem das espécies”, essencial para entender a vida sem apelar a lendas, ao obscurantismo.
29 de nov. de 2013
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