Lamentável o que continua acontecendo com a cidade de Santa Cruz do Sul. Suas antigas edificações, casas e prédios comerciais e industriais estão dando lugar a edifícios – muitas vezes de uma beleza e complexidade de uma caixa de sapato, ou seja, uma mediocridade com o fim único de abrigar o maior número de possível de comércios, serviços e habitações, cada vez mais semelhantes a locais de confinamento...
Interessante observar que a cidade, que se diz orgulhosa de seu passado, destrói, literalmente, suas memórias concretas. Nada resiste a tentação do faturamento. Discursos sobre “nossas tradições” não resistem um minuto à cupidez do bolo de dinheiro fácil. Abre-se mão de convicções bem rapidamente. Ou, na verdade, nunca se teve: tudo sempre foi um discurso vazio.
O que define uma cidade na prática se não sua urbanização: edificações, ruas, áreas verdes, passeios, praças etc? Assim, estamos descaracterizando Santa Cruz de forma aguda. Aproximamo-nos velozmente (no centro, em especial) de um mercadão visualmente indigesto, desconfortável: poluído, feio, sem caráter – ou com aquele caráter-padrão, igual a tantas outras cidades que estão neste processo.
Triste também o pouco empenho da comunidade e da sua administração. Como não temos uma política efetiva e eficiente para a preservação e promoção do patrimônio arquitetônico? Será que todos se dobraram à lógica do ganho imediato ou estão alienados para tais questões urbanísticas de alto impacto no futuro da cidade? Afinal, que cidade queremos viver e ver nossos filhos e netos crescerem?
Lembro de uma palestra do José Lutzenberger na Câmara de Vereadores aqui de Santa Cruz; o agrônomo e ambientalista premiado, conhecedor do mundo, teuto-descendente “da gema” (filho do afamado arquiteto e artista alemão Lutzenberguer, radicado em Porto Alegre) perguntava ao público do evento o que estava acontecendo com Santa Cruz? A cidade perdia notoriamente suas edificações antigas. Por que não se fazia como na Alemanha, onde prédios históricos eram zelosamente preservados, convivendo com a arquitetura contemporânea, dando um ar ao mesmo tempo aconchegante, tradicional e moderno? E isso foi dito lá por 1995!
O caso é que queremos ser uma Alemanha só de Oktober – carnavalesca, caricatural, de papelão pintado. Copiamos – mal e indevidamente (deixando de lado a rica cultura verdadeiramente teuto-brasileira –; um folclorismo importado, mas dizendo que se trata de “nossas raízes” (desde quando houve na região de Santa Cruz alguma Oktoberfest ao longo do século XIX até meados de 1980?). E o que de fato há de admirável na Europa, damos de ombros e agimos com aquela mesquinharia cretina, cada vez mais se estampando em suas nossas.
Triste fim de uma cidade outrora singular, simpática... (Além das edificações antigas, áreas como o Cinturão Verde – outra marca da cidade – também estão cedendo à especulação imobiliária.)
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