Li a “A doença como metáfora” faz muito tempo, ainda no meu
tempo de graduação. A autora do ensaio é uma mulher sensacional, a escritora e
intelectual americana Susan Sontag (fotinho em anexo), falecida em 2004, após
uma vida intensa, cheia de amores e lutas. Tinha 71 anos e centenas de
publicações – ensaios, crônicas, romances etc.
Antes de ler Sontag, minha concepção sobre o câncer e de
várias doenças se apoiavam, como é muito comum, em “origens” emocionais e
espirituais. Assim, o câncer era produto de algum coisa errada ou ruim que
estivemos fazendo nesta ou numa outra suposta vida anterior. Da mesma forma, a
Aids (e Sontag tem vários textos sobre a síndrome) foi considerada uma praga –
uma punição a gente sem escrúpulos sexuais ou pervertidas. Incrivelmente, mesmo
depois de inúmeras pessoas terem contraído a síndrome por conta unicamente de
transfusões de sangue contaminado, vindo de bancos de sangue sem testagem –
caso do sociólogo Betinho –, mesmo assim há quem continue acreditando que se
trata de um castigo de Deus aos devassos e homossexuais...
O câncer é algo sério e nada acrescenta de positivo a pessoa
com a doença impingi-la com culpas que martelem dolorosamente sua mente com
autoreprovações, retirando-lhes energia ao invés de poupar forças para os
desgastes físicos do tratamento. Não basta a enfermidade em si? A doença em sua
crueza? Por que não apenas buscar os diagnósticos e tratamentos médicos mais
eficientes para cada caso, não desgastando o doente com conceitos e palavras de
pseudo-conforto ou pseudo-ajudas de fundo moral, baseadas em crenças pessoais,
como o “carma”? Por que não guardar isso para si e poupar, o amigo, o parente,
o conhecido (ou desconhecido) de se sentir culpado por alguma “falha” e
prescrever “métodos espirituais” que exigem autoflagelação, arrependimento e
outras “expiações de pecados”?
Na Idade Média existia a tortura e a fogueira para os
hereges e pecadores que não reconhecessem suas “graves faltas”. Hoje existe o
câncer...
*A Companhia das Letras editou em 2007 uma versão poket
juntando dois ensaios da Sontag, sendo o primeiro o A doença como metáfora.
Abaixo, um link com uma suma da obra e acesso virtual a parte do livro:
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