Outra reportagem da National Geographic Brasil para a gente ficar fascinado. Não, não é sobre alguma paisagem exuberante, uma ilha paradisíaca, o boto cor-de-rosa no Amazonas ou leões caçando na África. É sobre... a mão humana – e a sua ligação com as “mãos” de outros animais. O número de dedos, o número de ossos, suas articulações; o pulso, antebraço e braço têm tanta similaridades, que é impossível não ver evidenciado uma ancestralidade comum entre uma gama de animais, de golfinhos, passando por gatos, elefantes, morcegos e rãs (afora as estruturas menos similares, com os pés de pássaros etc.).
“A mão é o elo entre a nossa mente e o mundo”, diz a primeira linha da reportagem de Carl Zimmer, magnificamente ilustrada por Bryan Christie, saída na edição de maio de 2012 da revista. Lá pelo meio da matéria, Zimmer escreve: “Nossas mãos começaram a evoluir, pelo menos 380 milhões de anos atrás, de nadadeira musculares e encorpadas de parentes extintos dos atuais peixes dipnoicos, aqueles dotados de bexiga natatória”. Ele nos conta que houve mãos as mais exóticas imagináveis (ou inimagináveis). Por volta de 340 milhões de anos atrás, ou seja, 40 milhões de anos depois de ter iniciado a sua evolução o formato de cinco dedos se consolidou em alguns animais, resultando nas mãos e patas de diversos mamíferos, cada qual com características tão “geniais” e complexas quanto úteis (ou imprescindíveis) para a sobrevivência específica em determinados meios.
Para quem tem uma resistência à ideia de que “descendemos do macaco” – uma simplificação bisonha, nem de toda improcedente (já que derivamos de primatas, nós humanos, chimpanzés, gorilas...), mas que, por supostamente nos “diminuir” (os humanos e sua arrogância, feita a partir de histórias de “imagem e semelhança” a um Todo Poderoso criador de Tudo); pois alguns negam categoricamente tal cadeia de relações, ou acreditam que haja algum sopro divino em algum ponto da história, singularizando os humanos. (O mais grosseiro [ou infantil] nessas “hipóteses” é a de termos surgidos como coelhos puxados por uma mágico de em uma cartola...)
OK. Somo filhos do Manda-Chuva Mor. Tudo para nos acharmos o último bombom da caixa! O mais delicioso, desejado, raro, único... O que não fazemos para proteger este nosso pobre e esfumaçante ego esmagado pelo peso do cosmos?!
Mas o que importa é dizer que, sim, as mãos são uma maravilha da natureza. Nem por isso precisamos definir que tal estrutura fantástica decorra de “algo transcendental”. Por que não considerar que, mesmo com este fabuloso corpo que temos, ele é naturalmente limitado – incluindo nosso aparato cerebral – , sendo precipitado qualquer conclusão ad aeternum, dogmática, fechada, imutável. Trata-se, na minha opinião, de puro medo e ansiedade – medo e angústia de não ter uma resposta cabal; da impaciência em aguardar, antes de “concluir” com alguma “verdade final”; uma certa angústia em se manter à procura; quem sabe não haja logo adiante algum “pulo do gato” que nos faça “ver mais”, subvertendo, como temos feito seguidamente, os nossos limites físicos e biológicos, desafiando-os com ousadias de um Prometeu, do mito grego, ou de um Anjo Caído, da mitologia judaico-cristã.
Muitas vezes temos quebrado a cara e posto em perigo a própria existência. Mas lampejos nos levam, pelo estudo metódico e a sensibilidade alerta, a transcender fronteiras aparantemente intrasponíveis até ontem (hoje já se opera fetos no útero das mães, entre outras coisa ainda mais improváveis).
***A dimensão da fantasia, do fantásticos, do mítico, da imaginação, do próprio devaneio, da especulação aparentemente mais descabida são fundamentais para construirmos as explicações – sempre tentativas, mesmo as “científicas”, já que precisamos considerar todas as indicações de nossas naturais limitações enquanto mamíferos habitando este ecossistema terreno, tendo um cérebro moldado a quase perfeição (como as mãos!) para nossas primatas necessidades de sobrevivência, mas que, miraculosamente, abriu “fendas” para espiarmos uma imensidão “incomensurável”, como disse Thomas Kuhn, o cara do “A Estrutura das Revoluções Científicas”, que popularizou o hoje quase abusado termo “mudança de paradigma”.
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