17 de jul. de 2013

Essa velha juventude: o Papa no Rio (pensando aqui com os meus botões)

Tenho me perguntado por que a Jornada da Juventude, com o Papa Francisco, no Rio de Janeiro, tem me incomodado? Não consigo deixar de ficar perturbado com uma massa de jovens, em plena era do crescimento exponencial do conhecimento científico, nos apresentando possibilidades de compreensão mais fundamentadas do mundo e uma consequente geração de tecnologias, que se popularizam rapidamente, pois não aceito muito bem que essa gurizada ainda cultue instituições – a Igreja Católica – e líderes – o Papa – calcados na crendice, numa fé construída em cima de acontecimentos improváveis, como o nascimento de um homem-deus gerado por uma mulher virgem; homem-deus este que fez reviver mortos e que transmutou água em delicioso vinho, entre outros contrassensos práticos – narrados na coletânea de textos denominada Bíblia – que se encaixam bem melhor na ordem do lendário, dos contos de fada, da magia ou ilusionismo. Afora a história institucional cheia de lama e a estrutura misógina e gerontocrática do catolicismo oficial, que exclui mulheres e jovens do poder. (Veja-se a escolha do Papa, por exemplo, onde um conselho formado somente por idosos, com NENHUM JOVEM, NENHUMA MULHER, NENHUMA PESSOA COM PLENA VIDA SEXUAL elegem o Poderoso Chefão, o Déspota, o Patriarca; não há feminilidade, não há juventude, não há o prazer natural e biológico da sexualidade presentes naquela sala enorme, riquíssima, com aqueles homens bem alimentados e elaboradamente paramentados, com roupas, correntes de ouro e anéis rutilantes, que estão a eleger o Manda-Chuva da suposta igreja que representa o... peregrino da pobreza, da humildade, do despojamento, dos pés em sandálias de couro, puídas e empoeiradas, percorrendo, sem casa, sem templo, com companheiros rústicos pescadores, igualmente despojados, os povoados de um oriente conflagrado.)

Há muitos adeptos do cristianismo que admitem o caráter metafórico das narrativas bíblicas. Não interpretam os textos de forma literal. E isso me parece um baita progresso rumo à saída do obscurantismo. Mas grande parcela endossa piamente o que lá é contado (ou recontado, já que se trata de narrativas muitas vezes transcritas, traduzidas, adaptadas, acrescidas, suprimidas num longo e complexo processo de séculos e séculos), e assim, tal gente, fundamentalistas, se postam contra, por exemplo, a evolução das espécies, uma forma explicativa amplamente lastreada, iniciada por cientistas como Charles Darwin e Alfred Wallace. (Entretanto, os fundamentalistas não se recusam a usar toda a tecnologia gerada por tais conhecimentos científicos, quando por exemplo, estão usando fármacos, se submetendo a cirurgias e transplantes.)

Posso considerar que tais jovens crentes simplesmente não se questionam mais radicalmente, e são levados pelo costume, pelo poder do que está de tal forma estruturado, que parece algo “que só pode ser real”; quem ergueria enorme e lindíssimos templos, como o Vaticano e tantas Catedrais, se o motivo não fosse verídico, no qual se pode depositar plena confiança? Mas já foi dito que “tudo que é sólido pode se desmanchar no ar”, parafraseando os “diabólicos” Marx e Engels.

O fato de haver tanta adesão à vinda do Papa demosntra que há algo não funcionando na educação científica. Ou então o poder de outras instituições suplanta uma formação que estimule a especulação radical, a criticidade, o pensar inovador, motores do desenvolvimento intelectual humano. Ou, ainda, deve-se considerar que há no ser humano essa vontade, essa necessidade de acreditar num “além” – principalmente num além que lhe garanta a continuidade da vida, de um “eu” que não se dissolverá com a morte do corpo, que não virará poeira no vento e entrará nesse ciclo incognoscível que, por falta de palavras, chamamos de “vida”.

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