Ferdinando,
Sempre mil coisas.
A reportagem (sensacional) sobre o comportamento dos leões, com fotos (sensacionais), está na (sensacional) revista Natinal Geographic Brasil. Li em papel, mas logo adiante segue o link para a versão no site deles. Tempos atrás, havia feito um comentário no grupelho Visão Científica, que, aproveito, colo junto:
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(...) Da NG Brasil vou destacar uma reportagem muito bacana (textos, gráficos, fotos de alta qualidade para os meus padrões), na edição de agosto de 2013, sobre leões que vivem no Parque Nacional do Serengeti, na Tanzânia.
Páginas 56/57:
“Os tigres são solitários. Idem para as onças-pardas. Leopardos não têm interesse em se associar com outros de sua espécie. O leão é o único felino social. Vive em coalizões cujos tamanho e dinâmica são definidos por um intricado equilíbrio de vantagens e desvantagens evolutivas. E por que o comportamento social, inexistente em outros felinos, adquiriu tanta importância para o leão? É uma adaptação necessária para a caça de presas de grande porte, como os gnus? Facilita a proteção dos filhotes pequenos? Surgiu das características circunstanciais das disputas por territórios? À medida que se delinearam os detalhes da sociabilidade leonina, sobretudo nos últimos 40 anos, muitas das revelações cruciais vieram de estudos realizados no Serengeti.”
E as perguntas acima não caberiam também para os humanos? Por que vivemos em grupo? Como as relações entre os indivíduos se dá – numa perspectiva zoológica também para o Homo sapiens contemporâneo, ou seja, que considere existir um longuíssimo processo evolutivo – processo quel alguns supõem termos escapados ou, mais radical ainda, estarmos alheios, como “imagem e semelhança” de um deus criador, que montou o mundo com tudo pronto (em uma semana) e nos deu tudo para dominarmos e usufruirmos para todo e sempre?
Há os que, não acreditando em criacionismo bíblico, acreditam numa independência total do ser humano das contingências biológicas, tendo nós superado totalmente outros seres do ecossistema planetário, caso dos nossos “primos” gorilas, chipanzés e bonobos. De alguma forma, “endeusam” o ser humano, mesmo que sejam “ateus de carteirinha” (ou “materialistas”), como denuncia Steven Pinker em seu livro “Tábula Rasa”.
Certo, mas voltemos à matéria da NG Brasil. Segue o link:
http://viajeaqui.abril.com.br/materias/leao-serengeti-tanzania-africa-felinos-sociais
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E o que falei sobre a morte de fêmeas pelos machos, está neste trecho da reportagem:
“São belos felinos, um quarteto de machos, com 8 anos de idade, descansando em uma atmosfera de camaradagem. Parecem intimidantes e presunçosos. É provável que sejam dois grupos de irmãos, explica Rosengren, todos nascidos com diferença de meses em 2004. Em 2008, haviam sido apelidados de ‘os Assassinos’ por outro pesquisador, com base na suposição de que mataram três fêmeas com coleiras de rádio, uma após outra, de modo bastante sistemático em uma área de drenagem a oeste do rio Seronera. Tal violência de machos contra fêmeas não é aberração completa – em algumas circunstâncias, talvez até seja um comportamento adaptativo dos machos, liberando espaço aos bandos que eles controlam graças à eliminação da competição sob a forma de fêmeas nas proximidades –, mas, naquele caso, a matança reforçou a reputação de crueldade dessa coalizão de machos.”
Num acaso tremendo (ou nem tão acaso assim, já que estamos sempre transitando pelos assuntos; lendo, conversando, trocando dicas etc), pois no sábado à noite (baita programa...), ao seguir na leitura de “Sozinho no Polo Norte: uma aventura na terra dos esquimós” (L&PM, 1997), do explorador brasileiro Thomaz Brandolin (detalhe singular: o livro é dedicado ao seu companheiro de jornada, o cão Bruno), atentei para o seguinte, entre outras “curiosidades” – vindas de quem se deparou de verdade com “os caras peludos”:
“Apesar de perigoso, o urso polar (Ursus maritimus) é um animal encantador, e é totalmente adaptado às condições polares. Considerado o maior animal carnívoro terrestre, o macho chega a mais de meia tonelada e atinge fácil três metros de comprimento (...). O leite que a mãe [ursa] amamenta seu filhote contém 47% de gordura (...) o da vaca contém apenas 3,5%. São aproximadamente 20 mil ursos [1996] vivendo na costa das regiões árticas. (...) A comida é tão escassa que o território de um urso, onde ele passa a sua vida, pode chegar a 200 mil quadrados – um Paraná inteiro.”
E agora o que interessa para o “caso”:
“Os machos, por serem maiores e mais fortes que as fêmeas, quando estão famintos não respeitam ninguém e chegam a matar uma fêmea ou um filhote para comer. Por isso, na época do acasalamento as fêmeas só cedem aos assédios do macho depois de terem certeza da intenção deles.”
Parece-nos, em nosso julgamento antropocêntrico, uma crueldade inominável, repugnante em alta escala. Mas relativizando, considerando a história evolutiva, da sua mentalidade, dos seu instintos atávicos, a situação não é absurda, muito menos “imoral”... Trata-se simplesmente da natureza dos ursos.
Obviamente, esses acontecimentos do “mundo animal”, mesmo que o sejamos também essencialmente, não “justificam” ou “embasam” de qualquer forma qualquer tortura e morte de mulheres por parte de humanos do sexo masculino frustrados, furiosos, com noções de honra calcadas no mais imbecil machismo.
Smith / Kotzen – “White Noise”
Há 3 horas
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