Outra heroína pop do meu panteão é a brasileira Suzana Herculano-Hoezel, apresentada pela querida Lela, minha colega de instituição. Suzana é neurocientista do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ e tem se destacado como pesquisadora e divulgadora científica. Ela presta um serviço enorme na desmitificação do humano e suas fantasias autopromotoras, que somente alimenta a nossa situação patética no universo onde estamos imersos, tentando “nos achar” – em duplo sentido: localizarmo-nos no caos com nossas precárias ferramentas perceptivas/cognitivas – o que eu acho positivo, e – o que eu lamento às vezes – no sentido da soberba excessiva, nos colocando num “ápice da criação”, filhos diletos do Poderoso Chefão, portanto, “donos do campinho” (e da bola também), já com tudo encaminhado, felizes com nossos “faz de conta”.
Bem... falando sobre “a evolução do cérebro dos primatas”, Suzana, em artigo na revista Galileu (link abaixo), diz o seguinte, já na abertura do seu texto:
“O que nos torna especiais e nos distingue dos outros animais? Desde meados do século 19, quando a ciência passou a aceitar que a mente é fruto do funcionamento do cérebro, biólogos, psicólogos e neurocientistas se empenharam em encontrar maneiras de obter características distintivas do cérebro humano que justificassem nossa ‘superioridade’. Foi nessa mesma época que Darwin nos tirou do berço esplêndido [daí o título da postagem]. Se a diversidade animal na face da Terra é fruto da evolução a partir de um ancestral em comum, então nós, humanos, autoclassificados como ‘os que vêm primeiro’ (significado da palavra "primata"), somos feitos à imagem de... outros primatas. Mas, então, por que somos especiais?”
Atalhando o texto, a resposta da Suzana começa assim:
“Com 86 bilhões de neurônios, não 100, e sendo eles metade das células do cérebro, e não um décimo, mostramos que o cérebro humano é construído exatamente da maneira esperada para um cérebro ‘genérico’ de primata em um corpo de 70 kg - não maior ou com mais neurônios do que o esperado. (...) Ou seja: as regras da evolução do cérebro de primatas também se aplicam a nós, como deveriam. Se algo nos torna especial, é a combinação de sermos primatas (e não, por exemplo, roedores, o que nos permite concentrar um grande número de neurônios em um volume pequeno) e, dentre os primatas, os felizes portadores do maior cérebro - e, portanto, do maior número de neurônios.”
E eu mesmo me meto a concluir: Com isto (maior cérebro entre os primatas), temos mais conexões neurônicas, permitindo-nos uma capacidade enorme de adaptação, sobrevivência, expansão nos ambientes, criando estratégias e ferramentas impossíveis a outras espécies de vida animal conhecida. Mas há uma confusão entre tal “poder natural”, obtido no longuíssimo processo evolutivo planetário e da vida na Terra, e alguma “dádiva divina”. Sou o primeiro a reconhecer a maravilha da existência e a sensação empolgante de viver. Não por respeito em confiança em “Deus” ou ser transcendental, mas pela aventura, pela fortuna de poder se colocar como um explorador intelectual, com todo o corpo mergulhado no oceano da existência humana.
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI112400-17774,00-SOMOS+APENAS+GRANDES+PRIMATAS.html
19 de dez. de 2013
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