10 de dez. de 2010

Mais “alemães” que a Alemanha


A polêmica na escolha da Rainha da Oktoberfest (2010) de Santa Cruz do Sul é das mais interessantes. Em minha opinião, revelam-se aí os limites da tolerância étnico-racial no município e abre-se a farta mala de diversos preconceitos que nutrimos – vários maquiados por “justificativas culturais”.

Queremos ser mais alemães que a Alemanha, escolhendo como soberana da principal festa municipal uma estereotipagem de jovem germânica, ou seja, uma loira de olhos azuis – como se isso fosse algo geral no conjunto de povos de onde chegaram os primeiros imigrantes ditos alemães ou, ainda menos, do que é o norte da Europa atual.

Bastaria, como já foi aludido, pensarmos na seleção de futebol alemã das últimas copas. Há, entre os jogadores, representando o que há de melhor no país de Beckenbauer, uma pluralidade étnico-racial exuberante, incluindo afro-descendentes – sendo, inclusive, um deles, brasileiro naturalizado alemão.

Mas aqui, mesmo com todas as evidências de um já avançado – e, na verdade, desde o princípio da formação do município – processo de intercâmbio étnico, se quer exclusivismos raciais, o que configura, sem meias palavras, racismo, ou seja, a ideologia supremacista, que hierarquiza e diz, em suma, quem manda e quem obedece (ou quem deve viver e quem deve ser morto, lembrando os campos de concentração do governo alemão de algumas décadas atrás).

Onde a teuto-brasilidade deveria preponderar, vê-se a patética tentativa de afirmar elos com uma Alemanha contemporânea – pouco a ver com os lugares de onde partiram no século XIX as massas de pobres que foram assentadas em terras brasileiras –; uma “Deutschland” onde chega-se ao absurdo de “tradicionalizar” um esporte jamais praticado nas comunidades teuto-brasileiras – o Eisstocksport; até as cores alusivas à germanidade são da bandeira de um país que sequer existia nas primeiras e mais expressivas décadas da colonização germânica no Rio Grande do Sul.

Mas há bons sinais. Até mesmo autoridades locais têm criticado o ”paradigma” (sic) racistóide escondido atrás de argumentos que, ao fim e ao cabo, exigem a “pureza da raça” para ser “a” representante simbólica feminina da beleza, inteligência e simpatia santa-cruzenses. Nisso, a comissão julgadora prestou um bom serviço. Quiçá tenhamos em breve – como disse a secretária de turismo neste ano (2010) – uma moça negra soberana, para tornar de vez a Oktober uma festa que não discrimina, mas representa a variedade étnica que compôs e compõe Santa Cruz do Sul, desde quando o povoado primevo se chamava Faxinal do João Faria.

*Na foto (divulgação), Cacau, brasileiro de Santo André, SP - naturalizado alemão -, no ataque da Seleção da Alemanha, em plena Copa do Mundo 2010, comemora o gol sobre a seleção australiana (foto divulgação).

3 comentários:

Cassionei Petry disse...

Uma coisa que me irrita são cores dos canteiros do calçadão do centro, pintados durante a Oktober...

Iuri disse...

Verdade... Está dentro dessa associação artificial e perversa entre Alemanha e teuto-brasileiros, afora a construção de uma identidade comunitária local calcada em um só grupo étnico para inglês ver...

Anônimo disse...

aqui n é nda. Sta Cruz é bem misturada e bem agradavel para qqer raça viver. em Blumenau é ainda pior. lá eles correm com os negros e negras na Oktoberfest e no dia-a-dia tb!